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    Pinguelli Rosa deixa fórum do clima por discordar do afastamento de Dilma

    JULIANA CUNHA
    DE SÃO PAULO

    17/05/2016 18h26

    Secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudança Climática desde 2004 e um dos nomes mais importantes da militância científica pelo meio ambiente, Luiz Pinguelli Rosa já tinha uma carta de demissão pronta enquanto assistia à votação do Senado que decidiria pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff.

    A carta, endereçada ao presidente interino Michel Temer, foi enviada na quinta-feira (12), como informou o jornal "O Estado de S. Paulo". Nela, o físico e professor emérito da Coppe (o instituto de pós-graduação e pesquisa em engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) afirma que o afastamento da presidente foi uma "injustiça praticada com a conivência do Supremo Tribunal Federal" e que ele se recusaria a permanecer em um cargo que lidava diretamente com o presidente da República.

    O apoio de Pinguelli Rosa pode ter pego a presidente de surpresa: ambientalistas, afinal, não eram os maiores fãs de Dilma, cujo governo foi marcado por obras polêmicas como a da usina de Belo Monte e pela nomeação da senadora Kátia Abreu –apelidada de "rainha da motosserra"–, para o Ministério da Agricultura.

    Em entrevista à Folha, Rosa diz que sua atitude não é em defesa de Dilma, mas da democracia, e elogia a atuação da ex-ministra Izabella Teixeira à frente do Ministério do Meio Ambiente. Ponderado, ele elogia também a escolha do novo ministro, José Sarney Filho. "É uma pessoa que vem acompanhando a questão das mudanças climáticas há muito tempo", diz ele.

    *

    FOLHA – O senhor criticou publicamente diversas ações do governo Dilma, opiniões pessoais da presidente sobre a questão ambiental, deu entrevista falando sobre a corrupção na Petrobras. Diante de tanta discordância, o senhor não se considera uma fonte de apoio surpreendente para a presidente?

    Luiz Pinguelli Rosa – Minha saída do Fórum não é um apoio pessoal, é um entendimento de que esse afastamento é um erro monumental. Não houve crime de responsabilidade, pedaladas são uma trivialidade administrativa. Eu não quero ter nada a ver com esse processo que está acontecendo no Brasil. Isso para mim é uma grande injustiça praticada com conivência do Supremo Tribunal Federal.

    Eu sempre critiquei abertamente a atuação do governo, mas também elogiei o que merecia. A atuação da ministra Izabella Teixeira, por exemplo, que foi inclusive aluna da Coppe, foi exemplar. Ela fez um ótimo trabalho no ministério, acabou assumindo até tarefas que eram do Itamaraty, como articular a posição brasileira na Convenção do Clima da ONU.

    Mas a presidente Dilma é uma pessoa honesta e afastá-la dessa maneira é uma coisa que eu não concordo. Esse cargo [de secretário executivo do Fórum de Mudança Climática] lida diretamente com o presidente da República. Eu não poderia fazer isso discordando da presença do vice naquele lugar.

    Mas o senhor tem alguma discordância política com o presidente interino Michel Temer? O senhor acha que a política para o meio ambiente ou para as questões climáticas serão alteradas para pior?

    A gente não tem como saber. Justamente porque não houve um processo eleitoral, não houve uma discussão ampla, ninguém sabe qual a proposta dele para o meio ambiente. O que sabemos até agora é uma coisa ou outra do que ele pensa para a economia. Mas para todo o resto, é difícil saber. Se há uma eleição, essas coisas são discutidas. Mesmo que depois não saia como prometido, houve um debate amplo na sociedade, o governante teve que dizer o que achava das coisas e as pessoas tiveram oportunidade de discutir.

    O ministro que ele anunciou, o Sarney Filho, é um bom nome, conhece o assunto, é uma pessoa que vem acompanhando a questão das mudanças climáticas há muito tempo. Mas qual o direcionamento do governo para o tema? Ninguém sabe.

    Durante o governo Dilma, a presidente deu pouca atenção ao Fórum, deixando essa tarefa nas mãos da ministra do Meio Ambiente. Isso não acarretou em uma perda de prestígio do Fórum?

    Sim, acabou acontecendo isso. A Izabella acabou ocupando o lugar que era da presidente nesse assunto específico. Na questão prática, funcionava bem, mas eu falei diversas vezes que a ausência da presidente desestimulava a equipe.

    Lula era muito mais atuante, costurou pessoalmente a posição do Brasil na Conferência de Copenhague, se reunia comigo e com vários ministros.

    Caso a presidente Dilma volte ao governo, o senhor voltaria a presidir o Fórum?

    Não, isso é uma etapa vencida. Eu fiz o que tinha que fazer, me orgulho especialmente de ter ajudado o Brasil em Copenhague, mas não faz parte dos meus planos futuros voltar ao cargo.

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