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    especial ambiente

    Intervenções de artista querem alertar para relação entre homem e ambiente

    RICARDO BUNDUKY
    DE SÃO PAULO

    05/06/2016 02h00

    O trabalho do artista plástico paulistano Eduardo Srur, 42, é fazer as pessoas enxergarem um cenário quase invisível: a própria cidade. Uma vez, chamou a atenção para a poluição do rio Pinheiros colocando sobre o leito caiaques com manequins. Em outra, atraiu olhares para monumentos ao vesti-los com coletes salva-vidas.

    Desafiado pela Folha a explorar o desperdício de comida, sua opção foi fazer uma intervenção na Ceagesp, maior central de distribuição de alimentos da América Latina. "Meu trabalho questiona a relação entre o homem e a natureza. Vi o descuido que a gente tem com o alimento no Brasil", diz.

    Para tirar o público da "anestesia cotidiana", Srur extrai objetos cotidianos do contexto original: no caso, aqui, criou uma caçamba parecida com a convencional, mas vazada, para mostrar que o lixo "não desaparece num passe de mágica".

    "É um choque visual, porque a função da caçamba é remover entulho. Tiro essa função e a reconstruo em linhas no espaço. A função é transformada em reflexão".

    Na intervenção que resultou na capa deste caderno, caixas e caixas de tomates, abacaxis e pimentões descartados foram despejadas dentro da escultura até que desceram as correntes do caminhão. A caçamba foi recolhida, mas a montanha de comida descartada ficou no chão.

    "É uma provocação, mostra como a sociedade se comporta: quer ver o lixo afastado, mas ele vai para algum lugar. A maioria não tem um destino adequado", diz o artista, que aplica a lógica do resíduo zero em suas obras.

    Suas famosas garrafas Pet gigantescas colocadas nas margens do rio Tietê em 2008, por exemplo, foram transformadas em mochilas.

    Adriano Vizoni/Folhapress
    Eduardo Srur segura pimentão em instalação artística na Ceagesp, em São Paulo
    Eduardo Srur segura pimentão em instalação artística na Ceagesp, em São Paulo

    Srur participa de cada etapa -diz aos ajudantes como quer a comida, busca o lugar ideal para a instalação e olha no visor da câmera para ver se o enquadramento está bom. "Sou prático, gosto de executar minhas operações mentais." Não quer dizer que atue sozinho. "Artista não sabe fazer tudo."

    Algumas obras já lhe deram problemas: o "Touro Bandido", em posição de coito com uma vaca da Cow Parade, em 2010, o levou à delegacia (inquérito arquivado).

    O talento para "causar" virou fonte de renda. Criou uma empresa de intervenções para ações de marketing e sustentabilidade. "Agências precisam de ideias fora da caixa, e eu preciso de recursos da publicidade, infinitamente maiores que os da arte".

    Dediciu sair do ateliê, em parte, inspirado por Christo, não o da Bíblia, o artista búlgaro. "Vi que artista pode ter uma produção colaborativa e levar uma visão de empreendedorismo para o trabalho."

    Trocou o curso de publicidade por artes plásticas graças a uma aula chata de estatística. "Sempre gostei de arte, mas não era diferente de ninguém na escola. Foi uma aposta profissional. Não acho que artista seja diferente de médico ou advogado."

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