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Vista aérea da baía de Guanabara, palco de competições da Olimpíada do Rio |
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Ambiente
Sunday, 05-May-2024 22:14:11 -03Sem limpeza da baía de Guanabara e obras, Olimpíada terá legado mirrado
NÁDIA PONTES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA05/06/2016 02h00
Oito anos de preparativos antecederam os 17 dias de competições olímpicas no Rio de Janeiro, que acontecem entre 5 e 21 de agosto. Da lista de promessas feitas, e que ajudaram o Brasil a ganhar a candidatura em 2008, poucos projetos de impacto vão melhorar a vida na cidade.
Dentre as frustrações, está o plano de despoluição da baía de Guanabara, local das disputas de vela. O documento de candidatura do Brasil assinado por João Havelange que, à época, era membro decano do COI (Comitê Olímpico Internacional), se comprometia a tratar 80% do esgoto que deságua na baía antes do início dos Jogos.
Apesar da falha em cumprir a meta, para a APO (Autoridade Olímpica Brasileira) é preciso olhar os avanços. "Houve ampliação de 10% para 50% no nível de tratamento de esgoto na área da baía", diz Marcelo Pedroso, presidente da APO.
A SEA (Secretaria de Estado do Ambiente) culpa o modelo de gestão. "A baía possui vários gestores e nenhum planejamento em comum visando a sua recuperação e preservação", respondeu em nota à Folha.
Um novo plano de governança está sendo elaborado para que "erros do passado não se repitam e a baía não fique mais à mercê da gestão de um período de governo". A secretaria preferiu não falar em prazos.
Ainda assim, a qualidade da água durante as competições não estaria comprometida, afirma Pedroso. A solução foi criar uma galeria de cintura que "desviou" o esgoto despejado na área da Marina da Glória para mais longe, o emissário submarino de Ipanema.
Para os 9 milhões de habitantes do entorno da baía, quase nada mudou. "O problema da poluição da Guanabara é o esgoto da baixada fluminense. E as obras ali ficaram muito aquém do prometido", avalia Rogério Valle, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e coordenador do relatório de impactos e legados do Jogos Rio 2016.
Dawid Bartelt, diretor da Fundação Heinrich Böll Brasil, que estuda os impactos de megaeventos esportivos, não vê um legado promissor: "Com os Jogos concluídos, nenhuma grande melhoria deve acontecer nos próximos anos, até porque o estado do Rio beira a falência." Em 20 anos de Programa de Despoluição da Baía de Guanabara foram gastos R$ 2 bilhões.
Como parte da estratégia para diminuir as emissões de CO2 na área de transporte, a construção das 4 linhas de BRT (Transporte Rápido por Ônibus) ainda não está 100% concluída. "Tudo foi feito em função do funcionamento dos Jogos, e não da população", critica Bartelt.
A entrega da linha 4 do metrô, que ligará Ipanema à Barra da Tijuca, também ficou para depois dos Jogos. Já o VLT (Veículo Leve sobre Trilho) deve entrar em operação parcial até agosto, ligando a região da rodoviária ao aeroporto Santos Dumont.
Depois de calcular a emissão de carbono dos Jogos, estimada em 3,6 milhões de toneladas de CO2, o Comitê Rio 2016 criou uma ferramenta online que poderá ser usada gratuitamente em eventos futuros. "É importante saber o tamanho da pegada de carbono dos eventos. A ferramenta fica como legado", disse Tania Braga, gerente de sustentabilidade do Comitê.
Os projetos de compensação dessas emissões são feitos em parceria com a Dow, empresa química e patrocinadora do evento. Na gestão de resíduos, catadores vão atuar junto com o Comitê. "A ideia é incentivar as pessoas a fazer a separação correta do lixo e mostrar como isso ajuda o ambiente e o catador."
Um ano após o megaevento, um novo estudo vai analisar o legado das Olimpíadas, sob o comando de Rogério Valle. "Será o momento de ver se os Jogos foram, de fato, uma ocasião de mudança na cidade."
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