Ilhas oceânicas evoluíram durante milhões ou milhares de anos, produzindo ambientes muito originais e equilibrados. Isso, até o homem introduzir uma planta ou um animal invasor.
A introdução fazia sentido aos marinheiros das grandes navegações europeias, iniciadas no século 15. A ideia era criar um supermercado próprio de vegetais e especialmente animais, com ênfase naqueles que comem de tudo e se reproduzem rápido –cabras, galinhas, bodes, e porcos.
Só que esses bichos arrasavam a fauna e flora locais. Como aconteceu em várias ilhas famosas –como o Havaí e as Galápagos– e também na pequenina brasileira Trindade.
Segundo Ruy José Válka Alves, do Museu Nacional da UFRJ (Universidade Nacional do Rio de Janeiro), até o século 17 as florestas dominadas pela árvore conhecida pelo nome científico Colubrina glandulosa cobriam 80% da Ilha.
"Essas florestas ainda estavam vivas e saudáveis em 1700, quando a Ilha foi visitada pelo famoso astrônomo sir Edmund Halley.
Porém, das duas visitas em 1881 e 1889, Edward Frederick Knight (1852-1925) relatou uma floresta morta. As causas de tal degradação podem ser seguramente atribuídas às sucessivas ocupações da ilha por humanos e seus animais domésticos", escreveu Alves.
"A diversidade de espécies vegetais antes de 1700 foi certamente maior que a atual. Como a primeira observação florística da ilha foi feita em 1783, acreditamos que muitas espécies que aí ocorriam já teriam sido eliminadas pelas cabras. Mesmo o quadro da devastação mais recente é impressionante", afirma o pesquisador.
Entre 1959 e 1965, Johann Becker (1932-2004), naturalista e professor do Museu Nacional, fez várias campanhas de coleta em Trindade ele encontrou e amostrou o último espécime vivo de C. glandulosa.
O jornalista viajou a convite da Marinha do Brasil, a bordo do NDCC Almirante Saboia