• Ambiente

    Monday, 20-May-2024 10:31:42 -03

    Aquecimento global cria 'círculo vicioso' no Ártico

    DA AFP

    25/11/2016 16h39

    NASA/Reuters
    Pesquisadores americanos examinam gelo ártico, em Barrow, no Alaska, EUA
    Pesquisadores americanos examinam gelo ártico, em Barrow, no Alaska, EUA

    A região ártica registra este outono temperaturas recordes e um retrocesso sem precedentes dos bancos de gelo, imersa em um "círculo vicioso" que deve se tornar cada vez mais frequente com o aquecimento resultante das mudanças climáticas.

    "Cerca de zero graus Celsius no polo Norte, ou seja, 20ºC acima da média", alertou em meados de novembro o Instituto Meteorológico Dinamarquês (DMI). E nas últimas quatro semanas, o termômetro se manteve entre 9ºC e 12°C acima da média para esse período.

    Como consequência disso, os bancos de gelo estão em seus níveis mais baixos, em uma região cujo clima tem um grande impacto em todo o planeta e que se aquece duas vezes mais rápido que o resto do mundo.

    No final do verão, a superfície dos gelos árticos era a segunda menor já registrada (4,14 milhões de km²), atrás da de 2012, segundo o Centro Nacional de Dados de Gelo e Neve (NSIDC) dos Estados Unidos.

    Em outubro, aumentou para 6,4 milhões de km² –um terço da média de 1981-2010–, o que representa a menor superfície para esta estação desde o início dos registros por satélite, em 1979.

    Vários fatores causaram o sobreaquecimento do Ártico, segundo os cientistas. Entre eles, estão os ventos quentes do sul e o calor dos oceanos, além do fenômeno cíclico El Niño.

    Mas, na realidade, este fenômeno de aquecimento se autoalimenta. O degelo é uma consequência do calor, mas também é uma de suas causas.

    "Os bancos de gelo têm um papel isolante, limitando o fluxo de calor do mar (-2°C perto do polo) para a atmosfera, preservando assim um ar frio", explica Valérie Masson-Delmott, cientista do Laboratório de Ciências do Clima e Meio Ambiente, em Paris.

    Por outro lado, "a falta de gelo facilita a passagem do calor do oceano para o ar. Isto faz parte dos círculos viciosos" do clima.

    SEM GELO

    Martin Stendel, pesquisador do DMI, alerta sobre o aquecimento acumulado do oceano nos últimos anos, sob o efeito do desajuste climático.

    "Dado o aquecimento oceânico, o congelamento acontece cada vez mais tarde, e o degelo cada vez mais cedo", observa. "O gelo antigo desaparece, e ele não tem tempo para se reconstituir e recuperar uma espessura suficiente para aguentar o verão", alerta.

    Os cientistas anunciam que a médio prazo o oceano Ártico não terá mais gelo no verão, e estará coberto com uma camada fina de gelo no inverno. Isto poderia acontecer a partir de 2030.

    "Para um aumento de 2°C global, prevemos uma situação deste tipo, apesar de que ainda não sabemos quando", diz Masson-Delmotte.

    A comunidade internacional se comprometeu a limitar as emissões de gases do efeito estufa para impedir que a temperatura do planeta aumente mais de 2ºC em relação à era pré-industrial, em dezembro passado no Acordo de Paris.

    O aquecimento gerado por cada tonelada de CO² emitida (o equivalente a um voo entre Nova York e Paris por passageiro) provoca o desaparecimento de 3m² de gelo ártico, segundo um estudo recente.

    Entre os numerosos impactos do aquecimento, o derretimento da criosfera ártica tem consequências muito graves.

    O banco de gelo regula a temperatura mundial com o seu "efeito espelho" no verão, quando sua superfície branca reflete os raios solares e os envia de volta para a atmosfera.

    Seu retrocesso amplifica o aquecimento global, e o acentua particularmente nos continentes vizinhos.

    O derretimento tem efeitos também na densidade da água do mar, porque o sal adicional "age sobre a formação de grandes correntes oceânicas profundas", aponta Masson-Delmotte.

    "Todos estes efeitos estão intimamente relacionados", lembra a pesquisadora. Por isso, compreender o impacto do retrocesso do banco de gelo na dinâmica da atmosfera se tornou uma prioridade para os cientistas.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024