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    COP23

    Juntas, grandes produtoras de carne e leite poluem mais que a Alemanha

    ANA CAROLINA AMARAL
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
    EM BONN (ALEMANHA)

    08/11/2017 02h05

    Eduardo Anizelli/Folhapress

    Por trás das caras inocentes do bife no almoço e do leite no café da manhã está uma cadeia produtiva responsável por uma boa parcela das emissões de gases causadores das mudanças climáticas.

    Apenas três produtoras de carne -JBS, Cargill e Tyson- emitiram mais gases-estufa em 2016 do que toda a França e quase tanto quanto algumas das maiores companhias de petróleo, segundo um novo estudo lançado no início das principais negociações climáticas da ONU em Bonn, Alemanha -o maior emissor de carbono da Europa.

    Ainda assim, o país que está recebendo a COP-23 emite menos do que as 20 maiores empresas de carne e laticínios do mundo. A maior delas é a brasileira JBS.

    A criação de gado no Brasil está intimamente ligada ao desmatamento e às emissões de carbono, já que 65% da área desmatada na Amazônia é ocupada por pastagens, conforme os dados do Imazon, ONG que monitora desmatamento.

    "Além da grande área utilizada para a produção de gado, boa parte da área utilizada para agricultura é também destinada à produção de grãos para ração animal", ressalta Cristiane Mazzetti, especialista do Greenpeace sobre Amazônia e desmatamento.

    Para ela, a solução para diminuir o impacto da atividade no clima passa pelo rastreamento e pelo controle das cadeias produtivas.

    COP23

    O autor do estudo, porém, lembra que as emissões da JBS ultrapassam o território brasileiro, com uma produção global. E o problema estaria justamente aí. Devlin Kuyek, da ONG Grain, defende priorizar um modelo de negócio local como saída para o setor.

    "As grandes empresas globais estão altamente subsidiadas em um punhado de países onde esses produtos já são super consumidos. Eles exportam seus excedentes em produtos processados e menos saudáveis para o resto do mundo, erodindo milhões de pequenos agricultores que poderiam garantir a segurança alimentar dos seus povos."

    As emissões do setor de carne e laticínios são calculadas pelo IPCC (Painel Intergovernamental da ONU para Mudanças Climáticas), junto a emissões relacionadas a um grupo maior -agricultura, florestas e mudança do uso da terra.

    Apenas o setor da pecuária pode ser responsabilizado por 15% das emissões de gases-estufa do mundo. "Se fosse um país, seria o 7º maior emissor", compara Kuyek. Procurada para comentar o estudo, a Associação Brasileira de Frigoríficos preferiu não responder.

    A JBS afirmou desconhecer o estudo e a metodologia utilizada. A companhia informa que "calcula suas emissões globais desde 2012, utilizando levantamentos internacionalmente reconhecidos, como GHG Protocol, IPCC, entre outros, e essas análises indicam emissão de gases de feito estufa 34 vezes menor do que a apresentada pelo estudo citado".

    "Além disso", prossegue a empresa, "anualmente reporta seus resultados por meio de relatórios públicos, como as Plataformas GHG Protocol Brasil, CDP Climate Change, Índice ICO2 da BM&F Bovespa (G3) e o próprio Relatório Anual e de Sustentabilidade da JBS".

    Para chegar aos números do ranking, a pesquisa usa a estimativa da FAO (Organização da ONU para Agricultura e Alimentação) sobre as emissões da produção de carne em cada região do mundo e a multiplica pela quantidade de carne e laticínios produzida anualmente no mundo.

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