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    Na floresta, Ibama usa ciência para verificar legalidade da madeira

    RODRIGO VARGAS
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM COLNIZA (MT)

    06/12/2017 02h00

    A procura pela origem das toras que enchem os pátios das serrarias do noroeste de Mato Grosso tem etapas que lembram uma investigação policial.

    Na tentativa de identificar fraudes, é preciso chegar ao local exato no qual a árvore foi cortada e extrair as pistas contidas no toco que restou em meio à mata.

    O resultado deve corresponder exatamente aos sinais observados na tora que chegou à indústria.

    O trabalho de análise das toras tem ocupado dias e noites de equipes do Ibama que vieram de Minas Gerais e Goiás para dar apoio às ações de combate ao desmatamento e à exploração ilegal de madeira na região de Colniza (1.080 km de Cuiabá), parte da Operação Maravalha.

    Além de confirmar se a espécie é a mesma, medidas como o diâmetro e até mesmo minúsculos padrões do caule são avaliados.

    "Observamos a distribuição dos poros e o parênquima [tecido vegetal] em volta do poro. É como se fosse a impressão digital da madeira", diz o agente ambiental João Paulo de Almeida.

    Um resultado negativo, ou seja, que não sustenta uma correspondência com a toras armazenadas na serraria, é um indicativo seguro de que a madeira é proveniente de uma área diferente daquela que havia sido autorizada –muito provavelmente, de áreas protegidas, como terras indígenas ou unidades de conservação.

    "Fazemos o levantamento completo do romaneio, que é o relatório detalhado do estoque do pátio, depois selecionamos cerca de dez toras por amostragem para a verificação em campo", afirma a agente Kezia Macedo, que é a coordenadora da equipe mineira.

    DESAFIO

    A missão envolve um considerável desafio logístico e também físico. Além das distâncias amazônicas, pontes precárias e incontáveis atoleiros trazidos pelo início da temporada de chuvas, é preciso caminhar por quilômetros em meio à floresta até localizar cada ponto a ser fiscalizado.

    A reportagem da Folha acompanhou o trabalho de verificação de uma área que, por meio de plano de manejo regular, fornece matéria-prima para uma grande madeireira localizada no distrito de Guatá, na divisa dos Estados de Rondônia e do Amazonas. Na área, nenhuma irregularidade foi encontrada.

    O gerente da empresa, Antônio Marques da Costa, acompanhou a vistoria. "É bom para retirar quem está trabalhando ilegalmente. Quem trabalha corretamente tem um custo maior e acaba sofrendo para manter a competitividade", afirmou.

    Nem todos pensam assim. A viatura incendiada no dia 7 de novembro, na única avenida do distrito de Guariba, estava a serviço da equipe do Ibama vinda de Goiás.

    "Estávamos no restaurante almoçando quando ouvimos o barulho do lado de fora. Foi um susto muito grande", afirma o analista ambiental Odir Adelino Batista.

    A equipe de Minas Gerais chegou à região no dia 12 de novembro e volta para casa nesta semana. Os goianos encerram o trabalho no próximo dia 17, quando terão completado 65 dias contínuos na região.

    Neste ano, segundo o Ibama, mais de 25.000 m³ de toras de madeira com irregularidades na origem foram apreendidas no Estado de Mato Grosso –um volume equivalente à carga média de mil caminhões.

    Além de volumes superestimados nas áreas legalizadas com plano de manejo (que geram sobras que são vendidas para acobertar madeiras extraídas ilegalmente), contribui para o esquema fraudulento a facilidade para a abertura de empresas de fachada, destinadas unicamente a receber créditos virtuais, como depósitos de madeira.

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