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    9 pontos para entender a crise grega após o calote ao FMI

    DE SÃO PAULO

    11/07/2015 19h16 - Atualizado às 11h57

    Após a Grécia não pagar a dívida de € 1,6 bilhão com o Fundo Monetário Internacional (FMI) vencida no dia 30, a população do país votou (5) pelo "não" às condições dos credores para a liberação de verbas.

    Menos de uma semana depois, no entanto, o premiê grego Alexis Tsipras surpreendeu ao propor ajustes que iam ao encontro dos cortes de benefícios e aumento de impostos que haviam sido rechaçados na votação.

    A concessão não foi o suficiente, e o governo teve que ceder para negociar um terceiro pacote de ajuda, de mais € 86 bilhões e com condições ainda mais rígidas do que as anteriores.

    Leia abaixo 9 pontos para entender a crise grega depois do não pagamento da dívida do FMI.

    *

    1 - Qual o motivo da crise grega?

    A crise da economia grega, como a de outros países europeus, começou em 2008, na esteira da crise americana.

    Ela ganhou contornos próprios no ano seguinte, quando foi descoberto que o país maquiava as contas públicas e sua dívida, na verdade, era muito maior.

    O país ficou sem dinheiro e sem crédito e foi obrigado a recorrer à UE e ao FMI, que impuseram cortes de gastos e reformas econômicas.

    Houve demissões, alta de impostos e redução de salários e pensões, detonando protestos e greves. A economia grega encolheu 25% nos últimos cinco anos.

    Mesmo com crescimento de 0,8% da economia em 2014 a demanda é tão fraca que a queda nos preços no país foi de 1,4% em 12 meses terminados em maio deste ano.

    Além da parcela vencida da dívida do FMI de € 1,6 bilhão, os gregos também terão que pagar € 6,7 bilhões ao BCE em julho e agosto.

    2 - Qual o tamanho do endividamento grego?

    A Grécia deve € 320 bilhões, ou 177% do PIB —a dívida pública da zona do euro chega, no total, a 91,9% do PIB.

    Além do não pagamento de € 1,6 bilhão ao FMI, os gregos têm pagamentos ao BCE vencendo em julho e agosto no valor de € 6,7 bilhões.

    Grécia

    3 - O que foi votado no plebiscito grego?

    Ao votar "não" em plebiscito realizado no dia 5, os gregos decidiram recusar a proposta de acordo feita pelos credores, que exigiam do país aumento de impostos, corte de gastos e reforma profunda no sistema de Previdência para a liberação de um empréstimo de € 7,2 bilhões.

    A escolha fortaleceu o atual premiê Alexis Tsipras, que fez campanha pelo "não" —atual governo, do partido esquerdista Syriza, foi eleito com um discurso antiausteridade (ou seja, contrário aos cortes e impostos).

    4 - E o que está em negociação?

    No dia 9, no entanto, o governo grego surpreendeu com uma proposta bastante similar às exigências dos credores, contradizendo o plebiscito.

    Quatro dias depois, a Grécia chegou a um acordo ainda mais rígido com líderes da zona do euro para iniciar as negociações de um terceiro pacote de empréstimos com duração de três anos, e valor de € 82 bilhões a € 86 bilhões que permitiria à Grécia permanecer na zona do euro.

    Além dessa quantia, a Comissão se compromete a trabalhar pela mobilização de até € 35 bilhões via programas da União Europeia para financiar investimentos na Grécia.

    Editoria de Arte/Folhapress

    5 - Que mudanças a Grécia precisa aprovar?

    Para que as negociações continuem a avançar, o país deverá implementar uma série de reformas classificadas pelo jornal britânico "Financial Times" como "o programa de supervisão econômica mais intrusivo jamais estruturado na União Europeia".

    Dentre os pontos está um novo fundo de € 50 bilhões, que seria criado a partir da privatização de ativos gregos. Metade desse valor seria utilizada para o pagamento e recapitalização dos bancos, 25% para o pagamento da dívida e 25% para investimentos.

    Também estão previstos aumento e simplificação de impostos, reforma no sistema de pensão, relaxamento a restrições ao comércio aos domingos e "modernização" das leis de negociação e demissão coletivas.

    6 - Qual o prazo para as mudanças?

    Algumas alterações já foram aprovadas pelo Parlamento grego, outras têm prazos específicos para passar por votação.

    Na última quarta-feira (15) foram aprovados os pontos:

    Impostos

    Simplificação do IVA (Imposto Sobre o Valor Agregado) —o imposto sobre o consumo—, e ampliação da base fiscal para aumentar a receita do governo.

    Aposentadoria

    Adoção de medidas que tornem o sistema de aposentadoria e pensões sustentável a longo prazo.

    Estatísticas

    Garantia de total independência da Autoridade Helênica de Estatísticas.

    Gastos

    Implementação completa do Tratado sobre Estabilidade, Coordenação e Governança na União Econômica e Europeia. Ele foi assinado, em 2012 pelos chefes de Estado do grupo, com exceção do Reino Unido e da República Tcheca.

    O acordo ressalta a necessidade de tornar o conselho fiscal operante e introduzir cortes de gastos "quase automáticos" no caso de afastamento da meta de economia para pagamento de juros da dívida.

    Até o dia 22, devem-se aprovar os seguintes pontos

    Código de procedimento civil

    A adoção de um código de procedimento civil, com o objetivo de acelerar processos judiciais e cortar custos.

    Recuperação de bancos

    A aplicação da diretiva relativa à recuperação e resolução de bancos (DRRB), disposição aprovada pelo Parlamento Europeu que prevê formas de recuperar bancos com problemas.

    6 - Com as aprovações os gregos já recebem o dinheiro?

    Não, a proposta que serve como base para a negociação ainda precisa ser aprovada pelos Parlamentos de alguns dos membros da zona do euro antes que o processo continue. França, Finlândia e Alemanha já a aprovaram.

    Áustria, Espanha, Eslováquia e Estônia também precisam aprovar os termos. Além disso, as lideranças europeias já afirmaram que a aprovação pela Grécia é apenas um ponto de partida e que ajustes ainda serão feitos.

    Mas algum alívio já pode ser sentido conforme as negociações avançam. No dia 16, o Banco Central Europeu aprovou a liberação de mais € 900 milhões em crédito aos bancos gregos, o que, segundo o governo do país, permitirá a reabertura das instituições, fechadas desde o dia 29 de junho.

    No dia 17, a Comissão Europeia, formada por chefes de Estado da União Europeia, aprovou um empréstimo de € 7 bilhões para que a Grécia pague dívidas urgentes, como os € 1,6 bilhões do FMI e mais uma parcela de € 3,5 bilhões que vence no dia 20.

    7 - Mas a crise está chegando ao fim?

    Mesmo se o pacote de € 86 bilhões for liberado, restam dúvidas sobre a sua eficácia. O próprio premiê grego, Alexis Tsipras, afirmou ao Parlamento nesta quarta que não acredita que as medidas serão benéficas para a economia.

    Anteontem, o FMI divulgou estudo em que afirma que a situação do país vai piorar se alguma forma de perdão da dívida não for adotada pelos outros países.

    8 - Quais os riscos da crise para o Brasil?

    O ministro Joaquim Levy afirmou na última terça (30) que o país está "relativamente confortável" para enfrentar o calote grego.

    Além do impacto nos mercados financeiros, um risco para o Brasil é se os problemas gregos se espalharem para o resto da União Europeia, já que o bloco compra quase 20% das exportações brasileiras.

    Paulo Whitaker/Reuters
    Levy: O Brasil está 'relativamente confortável' para enfrentar o calote grego
    Levy: O Brasil está 'relativamente confortável' para enfrentar o calote grego

    9 - Pretendo viajar para a Grécia. Devo desistir?

    Apesar da promessa do governo de que a restrição a saques não afetará estrangeiros, agências recomendam que turistas levem dinheiro vivo.

    Louisa Gouliamaki - 3.mai.2012/AFP
    Vista do pôr do Sol na ilha de Santorini, na Grécia
    Vista do pôr do Sol na ilha de Santorini, na Grécia

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