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    De gentilezas a ataques mútuos, relembre encontros, críticas e afagos entre Dilma e FHC

    DE SÃO PAULO

    24/07/2015 13h00

    A presidente Dilma Rousseff pode se encontrar com seus antecessores Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) para frear os líderes oposicionistas que defendem o impeachment da petista.

    Segundo reportagem da Folha desta sexta-feira (24), o Palácio do Planalto expressou apoio à iniciativa de Lula de buscar aproximação com FHC, e Dilma também está disposta a participar de uma conversa com eles.

    Esta não seria o primeiro encontro da presidente com o tucano desde que ela subiu a rampa do Planalto em 2011. De lá para cá, já houve momentos de afagos, como na carta em que Dilma cumprimentou FHC pelos seus 80 anos, e outros mais tensos, como nas trocas de farpas durante as últimas eleições.

    FHC, porém, não esconde mágoas com Lula, o que pode atrapalhar o encontro. Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" em março, disse que não tinha como fazer acordos com o petista. "Ele quer é acusar. Ele é o bom, nós somos os maus. Então, há como dialogar com quem não quer dialogar", afirmou.

    No início de julho, durante convenção do PSDB, Fernando Henrique fez um discurso duro –sem citar o nome da presidente Dilma Rousseff, mas afirmando que o PT "quebrou" o Brasil. Sem falar em impeachment, o ex-presidente afirmou o PSDB tem a receita para "passar o país a limpo". "Estamos prontos, sim (...), para assumir o que vier pela frente", disse FHC.

    A reação coube ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, Segundo ele, falar em cassação da presidente é um "despudor democrático".

    Relembre encontros, agrados e ataques entre Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso.

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    No começo, todos amigos

    Jorge Araújo - 21.fev.2011/Folhapress
    Dilma e FHC se encontram no começo do primeiro mandato da petista, durante comemoração de 90 anos da Folha, na Sala São Paulo
    Dilma e FHC se encontram no começo do primeiro mandato da petista, durante comemoração de 90 anos da Folha, na Sala São Paulo

    Gentileza gera gentileza

    Achei uma coisa de gentileza, senão eu não teria vindo. Em matéria de Estado, quando está se representando o país, como é o caso aqui, não cabe divisões político-partidárias. Eu acho que a presidente Dilma demonstrou que tem uma compreensão correta dessa matéria
    FHC, ao ser convidado por Dilma a participar de jantar oferecido a Barack Obama (19,mar.11)

    Não é culpa dela

    Era melhor não ter perdido [os dois ministros], mas a presidente não é responsável por isso. Acontece
    FHC, ao afirmar que a crise que o governo enfrentava naquele momento –a saída do ex-ministro Antonio Palocci da Casa Civil e a substituição de Luiz Sérgio da Secretaria de Relações Institucionais– não era culpa de Dilma (10.jun.11)

    Parabéns a você

    O presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica
    Dilma, em mensagem aos 80 anos de FHC (11.jun.11)

    Após receber a carta, FHC telefonou para Dilma e agradeceu. Ele disse ter ficado "extremamente feliz" com o gesto da presidente.

    Anciãos

    Em outubro de 2011, quase nove anos após deixar o governo, FHC voltou ao Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República. Ele foi recebido por Dilma para um jantar do grupo conhecido como The Elders (os anciãos, em inglês), líderes mundiais que se reúnem em torno de uma agenda humanitária e de promoção da paz.

    Luto

    Eles também se encontraram na despedida do ex-presidente Itamar Franco, morto em 2011.

    Jorge Araújo - 4.jul.2011/Folhapress
    Dilma ao lado dos tucanos FHC, Aécio Neves e José Serra no velório do ex-presidente Itamar Franco
    Dilma ao lado dos tucanos FHC, Aécio Neves e José Serra no velório do ex-presidente Itamar Franco

    Contra a miséria

    No mês seguinte, novo encontro, durante o lançamento do plano Brasil sem Miséria.

    Roberto Stuckert Filho - 18.ago.2011/PR
    Dilma, FHC e governadores do Sudeste durantee assinatura do termo de pactuação do Plano Brasil sem Miséria
    Dilma, FHC e governadores do Sudeste durante assinatura do termo de pactuação do Plano Brasil sem Miséria

    Riso fácil

    Em 2012, riram juntos durante homenagem do então prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, à presidente Dilma.

    Juca Varella - 25.jan.12/Folhapress
    Dilma cumprimenta FHC ao ser homenageada na Prefeitura de São Paulo pelo então prefeito Gilberto Kassab
    Dilma cumprimenta FHC ao ser homenageada na Prefeitura de São Paulo pelo então prefeito Gilberto Kassab

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    Depois, a relação azedou

    Mexeu com ele, mexeu comigo

    Nem bem completado um ano de governo e lá se foram oito ministros, sete dos quais por suspeitas de corrupção. Pode-se alegar que quem nomeia ministros deve saber o que faz
    FHC, em artigo em que acusa Lula de deixar uma "herança pesada" para a sucessora

    Não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob a ameaça de apagão
    Dilma, rebatendo o tucano (3.set.12)

    Panos quentes

    Na sequência, FHC disse que seu artigo sobre o legado de Lula se ateve a adjetivações e não rebate os fatos descritos e ressalvou que não quer "bater boca" com a presidente. Disse que o episódio não deixaria sequela na sua relação com Dilma: "Até agora, ela tem me tratado com consideração".

    Ação e reação

    O antigo e questionável modelo de privatização de ferrovias (...) torrou patrimônio público para pagar dívida, e ainda terminou por gerar monopólios, privilégios, frete elevado e baixa eficiência
    Dilma, em seguida, atacando tucanos na TV (6.set.12)

    São Paulo não aceita quem é tolerante com desvios de dinheiro público (...) vai votar em um administrador honesto, com história limpa, José Serra
    FHC, logo depois, durante campanha à prefeitura de SP (10.set.12)

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    Até houve novos encontros amigáveis

    Todos pela liberdade

    Esse é o ponto culminante de um processo iniciado nas lutas do povo brasileiros pela liberdades democráticas, pela anistia, pelas eleições diretas, pela constituinte, pela estabilidade econômica, pelo crescimento com igualdade social. Um processo construído passo a passo, durante cada um dos governos eleitos depois da ditadura
    Dilma, durante instalação da Comissão da Verdade, que contou com a presença de Lula, FHC, Fernando Collor e José Sarney

    Chegou o momento. Temos que revelar tudo
    FHC, no mesmo evento

    Sérgio Lima - 16.mai.2012/Folhapress
    A presidente Dilma Rousseff cumprimenta o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso após discurso na instalação da Comissão da Verdade
    A presidente Dilma Rousseff cumprimenta o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso após discurso na instalação da Comissão da Verdade

    Assim como respeito e valorizo os que lutaram pela democracia, enfrentando a truculência ilegal do Estado –e nunca deixarei de enaltecer esses lutadores e essas lutadoras–, também reconheço e valorizo os pactos políticos que nos levaram à redemocratização
    Dilma, em discurso de homenagem aos que morreram e desapareceram durante a ditadura; ela também homenageou Lula e FHC (31.mar.14)

    Ricardo Stuckert - 16.mai.2012/Instituto Lula
    Dilma com os ex-presidentes Lula, Fernando Collor, José Sarney e FHC no Palácio do Planalto, na instalação da Comissão da Verdade
    Dilma com os ex-presidentes Lula, Fernando Collor, José Sarney e FHC no Palácio do Planalto, na instalação da Comissão da Verdade

    Turma dos presidentes

    Em dezembro, Dilma e Fernando Henrique se encontraram pessoalmente de novo. Ao lado dos ex-presidentes Lula, Fernando Collor e José Sarney, foram juntos à África do Sul para acompanhar o velório de Nelson Mandela, numa viagem inédita de todos os presidentes brasileiros desde a redemocratização que estão vivos.

    Eventuais divergências no dia a dia não contaminam as posições do Estado Brasileiro
    Dilma, sobre a viagem (9.dez.14)

    Roberto Stuckert Filho - 9.dez.2013/Presidência da República
    Dilma entre os ex-presidentes Sarney, Lula, FHC e Collor antes de embarcarem para a África do Sul para o enterro de Nelson Mandela
    Dilma entre os ex-presidentes Sarney, Lula, FHC e Collor antes de embarcarem para a África do Sul para o enterro de Nelson Mandela

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    Mas o clima pesou durante –e após– as eleições

    A culpa é dele

    Hoje, há [exploração eleitoreira do caso Petrobras]. Até porque os dois candidatos não podem esquecer os seus telhados. Eu não vou ficar aqui falando do telhado de ninguém, mas eles devem olhar os seus telhados. O meu telhado tem a firme determinação na investigação. Ele é um telhado cobertinho pela Polícia Federal investigando, o Ministério Público com autonomia
    Dilma, durante as eleições, criticando as investigações de corrupção na gestão de FHC (8.set.14)

    O povo brasileiro não quer de volta o que podemos chamar de fantasmas do passado, aqueles que quebraram esse país três vezes
    Dilma, em referência à gestão tucana na Presidência, durante as eleições

    Sabemos quem é que, no passado, desempregou. Quem é que conseguiu bater o recorde de desemprego em 2002, o governo FHC
    Dilma, em um dos ataques à gestão FHC, durante as eleições (22.out.14)

    Depois é dela

    Nunca ataquei a Dilma pessoalmente. Discuto a política dela. Eu fiquei um pouco, digamos, entristecido de ver até que ponto a ambição pelo poder leva as pessoas a dizerem o que não creem
    FHC, criticando os ataques que sofreu de Dilma durante as eleições

    Depois de uma campanha de infâmias, difícil crer que o diálogo proposto [por Dilma com adversários] não seja manipulação
    Fernando Henrique Cardoso (3.11.14)

    A tarefa a ser cumprida [na economia] seria mais bem realizada com a esperança, o ânimo e o compromisso de campanha dos que não venceram. Cabe agora aos vitoriosos vestir a camisa de seus opositores (como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já fez em 2003), continuar maldizendo-nos e fazendo malfeito o que nós faríamos de corpo e alma, portanto, melhor
    FHC, sobre as mudanças de Dilma na economia (7.dez.14)

    Bateu, levou

    Olhando os dados que vocês mesmos divulgam nos jornais, se em 96 ou 97 tivessem investigado [a Petrobras] e tivessem naquele momento punido, nós não teríamos o caso desse funcionário da Petrobras que ficou durante quase 20 anos [atuando em esquema] de corrupção. A impunidade, e isso eu disse durante toda a minha campanha, a impunidade leva água para o moinho da corrupção
    Dilma, afirmando que durante a gestão tucana casos de corrupção não eram investigados (20.fev.15)

    Uma vez que a própria Presidente entrou na campanha de propaganda defensiva, aceitando a tática infamante da velha anedota do punguista que mete a mão no bolso da vitima, rouba e sai gritando "pega ladrão"!", sou forçado a reagir
    FHC, rebatendo a presidente (20.fev.15)

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