Entenda por que sírios, afegãos, eritreus, somalis e nigerianos arriscam a vida para tentar encontrar refúgio na Europa
Mapa: As cinco principais origens de refugiados que tentam ir à Europa
DANIEL AVELAR
LEDA BALBINO
DE SÃO PAULO
Entenda por que sírios, afegãos, eritreus, somalis e nigerianos arriscam a vida para tentar encontrar refúgio na Europa
Mapa: As cinco principais origens de refugiados que tentam ir à Europa
A Europa enfrenta atualmente uma grave crise de refugiados e migrantes. Desde o início de 2015, mais de 300 mil pessoas tentaram chegar ao continente por meio de travessias perigosas no Mediterrâneo. O fluxo intenso de pessoas está relacionado à situação de conflitos armados e de perseguição existente em vários países, principalmente na Ásia e na África.
Segundo cálculo da Organização das Nações Unidas divulgado em julho, cerca de 62% dos que tentam chegar à Europa são considerados refugiados, ou seja, têm chances de receber asilo por fugir de perseguição, conflito ou guerra. Os demais são classificados como migrantes, o que significa que viajam em busca de melhores condições e não correm risco de vida em seu país de origem.
A situação na Europa parece ser apenas uma das peças que compõem o crítico quadro mundial de refúgio. Segundo o Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), atualmente cerca de 60 milhões de pessoas em todo mundo se encontram deslocadas devido a conflitos armados e perseguição de diferentes tipos. Desse total, 19,5 milhões buscam asilo em outros países e por isso são reconhecidos como refugiados.
Confira abaixo a situação nos principais países de origem dos refugiados e migrantes que tentaram chegar à Europa pelo Mediterrâneo entre janeiro e junho de 2015.
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A Síria mergulhou em uma violenta guerra civil em março de 2011, no contexto do levante popular conhecido como Primavera Árabe, após setores da população pegarem em armas para tentar derrubar o ditador Bashar al-Assad.
Desde então, o controle sobre o território do país está fragmentado entre forças leais a Assad e grupos insurgentes, como o Exército Livre da Síria e a frente al-Nusra, ligada à Al-Qaeda. O conflito abriu o caminho para que grupos radicais ganhassem força. É o caso da facção Estado Islâmico, que proclamou um califado na região em agosto de 2014 e hoje controla mais de 50% da Síria.
Os quatro anos de guerra civil dilaceraram o tecido social desse país árabe e desataram a principal crise de refugiados desde a Segunda Guerra. Mais da metade dos cerca de 20 milhões de habitantes do país foi forçada a deixar suas casas.
Cerca de 7,6 milhões fugiram para outras partes da Síria, enquanto 4 milhões para outros países, principalmente os vizinhos Turquia, Líbano e Jordânia. Uma pequena parte desses refugiados busca asilo em países ricos da Europa, especialmente a Alemanha e a Suécia.
Segundo o Acnur, cerca de 34% das pessoas que tentaram entrar irregularmente na Europa pelo Mediterrâneo neste ano eram sírios.
Shah Marai - 7.ago.2015/AFP | ||
Policiais afegãos vigiam mercado onde atentado a bomba com caminhão deixou sete mortos e mais de cem feridos |
Abatido por diferentes conflitos desde o fim dos anos 1970, o Afeganistão se manteve no posto de principal origem de refugiados no mundo até o início da guerra na Síria.
A diáspora afegã formou-se em quatro principais ondas: durante a invasão soviética (1978 a 1989), na guerra civil (1992 a 1996), sob o regime fundamentalista do Taleban (1996-2001) e desde o início da intervenção militar liderada pelos Estados Unidos após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
Atualmente, há 710 mil afegãos deslocados internamente e mais de 2,5 milhões de afegãos refugiados em outros países, sendo que 95% deles vivem nos vizinhos Paquistão e Irã. Desde 2002, mais de 3,8 milhões de pessoas refugiadas no Paquistão retornaram para o Afeganistão.
Nos últimos anos, o Taleban vem intensificando sua insurgência no Afeganistão para tentar recuperar a influência que tinha até ser deposto. Temendo a violência e a instabilidade política no país, muitos afegãos buscam asilo na Europa.
Cerca de 12% das pessoas que atravessaram o Mediterrâneo irregularmente rumo à Europa neste ano tinham nacionalidade afegã.
A Eritreia é governada pelo ditador Isaias Afworki desde sua independência em relação à Etiópia, em 1993. O país é considerado por muitos como a "Coreia do Norte africana", dados os seus altos índices de repressão.
Segundo o Acnur, muitas pessoas têm fugido da Eritreia devido à intensificação do recrutamento para o serviço militar, que é obrigatório e não tem duração previamente definida.
Atualmente, há mais de 216 mil refugiados da Eritreia nos vizinhos Etiópia e Sudão. Dada a precária qualidade de vida verificada nos campos de refugiados desses países, muitos eritreus têm buscado asilo em outras localidades, incluindo a Europa.
Cerca de 12% das pessoas que tentaram entrar irregularmente na Europa pelo Mediterrâneo neste ano eram eritreus.
Tony Karumba - 31.jul.2011/AFP | ||
Campo de refugiados de Dadaab, no Quênia, que acolhe cidadãos somalis que fogem da seca e da violência em seu país |
A Somália enfrenta um violento conflito desde a queda do ditador Siad Barre, em 1991, fazendo com que muitas pessoas tenham sido forçadas a deixar suas casas. A situação é agravada por secas esporádicas, que comprometem a segurança alimentar do país.
Em meio à instabilidade política, ganhou espaço na Somália a milícia radical islâmica Al-Shabaab, filiada à Al-Qaeda. Por vários anos, o grupo proibiu a presença de ajuda estrangeira em áreas do centro e do sul do país, dificultando a entrega de ajuda humanitária para populações em situação de risco.
Segundo o Acnur, há cerca de 1,1 milhão de pessoas deslocadas internamente na Somália e mais de 1 milhão de somalis refugiados em outros países, principalmente nos vizinhos Quênia, Etiópia e Iêmen.
Por volta de 5% das pessoas que atravessaram o Mediterrâneo tentando entrar na Europa neste ano tinham nacionalidade somali.
Emmanuel Arewa - 5.mai.2015/AFP | ||
Meninas resgatadas do Boko Haram pelo Exército da Nigéria esperam para receber roupas em campo de refugiados no país |
A Nigéria busca fortalecer seu regime democrático, instaurado em 1999, mas enfrenta desafios como uma crise energética e uma onda de violência sectária.
Atualmente, o governo lida com a insurgência do grupo radical Boko Haram, que controla grandes porções de território no norte do país. Recentemente, o grupo declarou lealdade ao Estado Islâmico.
Confrontos violentos entre as forças de segurança e os insurgentes forçaram 1,3 milhão de nigerianos a fugir para outras partes do país, além de cerca de 150 mil pessoas que se refugiaram principalmente nos vizinhos Chade, Níger e Camarões.
Os nigerianos correspondem a cerca de 5% dos refugiados e migrantes que tentaram chegar à Europa pelo Mediterrâneo neste ano.
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