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    Do 'cheiro do diabo' sentido por Chávez à 'bomba' de Netanyahu: relembre discursos memoráveis na ONU

    EDITH M. LEDERER
    DA ASSOCIATED PRESS

    28/09/2015 08h00

    Khruschov martela a mesa com seu sapato. Fidel Castro discursa por horas a fio. Gaddafi rasga a carta da ONU. Enquanto as Nações Unidas celebram seu 70º aniversário e líderes mundiais iniciam nesta segunda-feira (28) em Nova York a fase de debates da Assembleia Geral da ONU, com a presidente Dilma Rousseff sendo a primeira a discursar, vale recordar seis episódios memoráveis que marcaram sessões passadas.

    Fidel bate recorde

    O líder cubano Fidel Castro denunciou os Estados Unidos no discurso mais longo já proferido na Assembleia Geral da ONU —quatro horas e 29 minutos—, em 26 de setembro de 1960.

    Trajando o uniforme militar verde que era sua marca registrada, Castro disse que a revolução que comandara 20 meses antes tinha posto fim ao status de seu país de "colônia dos Estados Unidos", mas que os EUA ainda acreditavam ter "o direito de promover e incentivar a subversão em nosso país".

    No discurso, que incluiu longas divagações, Castro defendeu os vínculos de Cuba com a União Soviética, expressou o receio grave de que o "governo imperialista" norte-americano pudesse atacar Cuba e descreveu o presidente americano, John F. Kennedy, como "milionário analfabeto e ignorante".

    Castro também se queixou de ser submetido a "tratamento degradante e humilhante" em Nova York, incluindo ser expulso de seu hotel.

    Em dezembro de 2014, graças à intermediação do papa Francisco, EUA e Cuba retomaram relações diplomáticas.

    Khruschov põe o sapato na mesa

    Durante um debate na Assembleia Geral sobre colonialismo, em 12 de outubro de 1960, o primeiro-ministro soviético, Nikita Khruschov, reivindicou o direito de dar uma resposta ao representante das Filipinas, que protestava contra a falta de liberdade dos Estados do Leste da Europa, satélites soviéticos.

    Khruschov se levantou e começou a martelar a mesa, com raiva. Em seguida, pegou um sapato que estava sob a mesa e o bateu várias vezes, indignado. Curiosamente, aquele momento não chegou a ser registrado em fotografia ou vídeo.

    Sua neta escreveu mais tarde que Khruschov estava usando sapatos novos e, como eles estavam apertados, tinha tirado-os enquanto estava sentado. Ela e o intérprete do líder soviético disseram que, quando Khruschov se levantou, bateu sobre a mesa com seus punhos com tanta força que seu relógio caiu do pulso. Quando ele se abaixou para pegar o relógio, viu o sapato e passou a martelar a mesa com ele.

    Arafat defende autodeterminação dos palestinos

    Yasser Arafat, líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), discursou perante a Assembleia Geral pela primeira vez em 13 de novembro de 1974, tornando-se o primeiro representante de uma organização não pertencente à ONU a discursar perante o organismo mundial.

    Ele lançou um apelo à ONU para que possibilitasse aos palestinos "estabelecer a soberania nacional independente" de sua terra. No trecho mais memorável de sua fala, Arafat disse: "Vim aqui hoje portando um ramo de oliveira e o fuzil de um combatente da liberdade. Não deixem o ramo de oliveira cair de minha mão. Repito: não deixem o ramo de oliveira cair de minha mão."

    Depois do discurso, a OLP recebeu o status de observadora nas Nações Unidas, e seu direito à autodeterminação foi reconhecido.

    Chávez fareja o mal

    Em um discurso acalorado diante da Assembleia Geral da ONU, em 20 de setembro de 2006, o presidente venezuelano Hugo Chávez descreveu o presidente dos EUA, George W. Bush, como "o diabo", fazendo o sinal da cruz e acusando Bush de "falar como se fosse dono do mundo".

    O discurso do líder esquerdista foi visto como uma das iniciativas mais ousadas de Chávez na liderança de uma aliança de países que se opunham aos Estados Unidos.

    Aludindo ao discurso feito por Bush perante a Assembleia no dia anterior, Chávez afirmou: "Ontem o diabo esteve aqui. Bem aqui. E sinto o cheiro de enxofre hoje". Ele descreveu Bush como "porta-voz do imperialismo" que estaria tentando "preservar o padrão atual de dominação, exploração e saqueio dos povos do mundo".

    Após sua morte, em 2013, Chávez foi substituído por Nicolás Maduro, que manteve a retórica anti-EUA.

    Gaddafi faz apelo incoerente

    O ditador líbio Muammar Gaddafi subiu ao pódio da Assembleia Geral pela primeira vez em 40 anos em 23 de setembro de 2009 e proferiu um discurso pouco coerente que durou uma hora e 36 minutos —e levou boa parte dos presentes a abandonar o recinto.

    Trajando vestes beduínas longas e uma boina preta, ele criticou as Nações Unidas asperamente por não terem prevenido dezenas de guerras, sugeriu que os responsáveis pelos "assassinatos em massa" no Iraque fossem levados a julgamento e defendeu o direito do Taleban de criar um emirado islâmico.

    Em dado momento, Gaddafi brandiu no ar uma cópia da Carta das Nações Unidas e aparentemente a rasgou, dizendo não reconhecer a autoridade do documento. Mais tarde no mesmo dia, o primeiro-ministro britânico Gordon Brown declarou perante a Assembleia: "Estou aqui para reafirmar a Carta das Nações Unidas, não para rasgá-la".

    Em 2011, após ficar 42 anos no poder, Gadaffi foi derrubado com os protestos da Primavera Árabe. Meses mais tarde, foi morto por rebeldes.

    Mike Segar - 23.set.2009/Reuters
    Muammar Gaddafi, da Líbia, durante confuso discurso em 2009 em que criticou as Nações Unidas por não terem prevenido dezenas de guerras pelo mundo
    Muammar Gaddafi, da Líbia, durante confuso discurso em 2009 em que criticou as Nações Unidas por não terem prevenido dezenas de guerras pelo mundo

    Netanyahu mostra bomba imaginária

    Discursando na Assembleia Geral da ONU em 27 de setembro de 2012, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, ergueu um diagrama grande e simplificado de uma bomba.

    A bomba era dividida em seções assinaladas 70% e 90%. Netanyahu disse que o Irã já tinha percorrido 70% do caminho para o enriquecimento de urânio para a produção de uma arma nuclear.

    Ele exortou o mundo a traçar uma "linha vermelha" inequívoca e sustar o programa nuclear iraniano. Em seguida, traçou uma linha vermelha sob "90%", dizendo que os iranianos chegariam a esse ponto até meados de 2013 e que não se devia permitir que chegassem a isso.

    Netanyahu avisou que "nada pode colocar o mundo em perigo maior que um Irã nuclearmente armado" e insistiu que as "linhas vermelhas" previnem guerras.

    Em 2015, apesar da oposição de Israel, Irã e potências ocidentais firmaram um acordo que limitou o desenvolvimento nuclear de Teerã.

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