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    Conheça a indiana que venceu o preconceito e ergueu conglomerado

    SHILPA KANNAN
    DA BBC NEWS, EM COIMBATORE (ÍNDIA)

    11/11/2015 08h00

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    Rajshree Pathy conquistou espaço onde mulheres não tinham vez: nas empresas familiares
    Rajshree Pathy conquistou espaço onde mulheres não tinham vez: nas empresas familiares

    Se sua família mantém uma empresa há mais de um século, é normal que você espere tocar seus negócios no futuro. Mas não no caso da empresária indiana Rajshree Pathy.

    Ela se casou com apenas 17 anos e nunca esperou que um dia fosse ser presidente de um imenso conglomerado empresarial.

    Na Índia, ainda é relativamente comum ouvir que as mulheres não são capazes de dirigir empresas, especialmente no setor industrial.

    Em empresas familiares, elas só assumem essa função na ausência de herdeiros homens —e, mesmo nesse caso, é possível que outros arranjos sejam feitos.

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    Empresária indiana ampliou negócios da família nos últimos trinta anos
    Empresária indiana ampliou negócios da família nos últimos trinta anos

    "Um genro bem educado ou até mesmo primos homens costumam ser chamados para cuidar dos negócios e carregar o nome da família em muitos casos", conta Pathy.

    Se considerarmos que as companhias familiares respondem por quase dois terços da economia indiana e empregam cerca de metade da força de trabalho do país, trata-se de uma realidade surpreendente.

    DESAFIOS A SUPERAR

    Pathy esteve entre as primeiras mulheres a quebrar a barreira de gênero e desafiar essa tradição talhada pelo preconceito.

    Cerca de 30 anos atrás, ainda bem jovem, ela teve de mergulhar nos negócios da família após a morte repentina de seu pai.

    Parte da sexta geração da família que fundou o PSG Naidu Group, ela passou a responder por várias instituições educacionais e filantrópicas no sul do país.

    "É claro que os bancos caíram em cima de mim, dizendo: 'jovem senhora, seu pai se foi, quem vai assinar as garantias agora? Quem vai assegurar que o dinheiro que emprestamos a vocês vai voltar para nós? Talvez devêssemos assumir o controle dos negócios'."

    Pathy não recuou e logo encarou sua primeira batalha: terminar uma usina de açúcar que seu pai tinha começado a construir.

    Devido a uma seca, a produção de cana de açúcar estava baixa naquele ano, deixando os usineiros em sérias dificuldades.

    Ela pediu aos bancos um tempo para tomar o controle da incipiente fábrica de açúcar e provou que podia, sim, cuidar da companhia.

    "Eu construí a Rajshree Sugars inteiramente sozinha. Eu concluí [essa primeira usina], construí mais duas e adquiri outras duas. E também parti para outros negócios."

    Nas décadas seguintes, Pathy expandiu a companhia da família para os ramos têxtil e químico. "Quando percebi, já tinha duas fábricas têxteis", conta.

    Hoje, seu conglomerado vai da área de educação a de energia.

    Pathy conta que, embora seus pais nunca tenham feito ela sentir que um filho homem fazia falta, muitos pareciam sentir pena deles por não terem um herdeiro.

    Segundo a empresária, por isso ela sempre nutriu a vontade de provar para seus pais que era tão boa quanto qualquer filho homem que eles pudessem ter.

    Seu pai era um defensor da igualdade de oportunidades. "Ele sempre encorajou minha irmã e eu a sermos o que quiséssemos ser, ao contrário de outras famílias de empresários, que procuram o genro certo para cuidar da dinastia."

    IGUALDADE DE OPORTUNIDADES

    Apesar de hoje haver um maior debate sobre o papel da mulher na sociedade indiana, ele se concentra mais em como tornar os espaços públicos mais seguros para elas, deixando a ampliação de sua participação na força de trabalho em segundo plano.

    A Índia chegou a aprovar uma lei que obriga as empresas a empregarem mulheres em seus conselhos.

    Mas, quando o assunto é a gestão de companhias, elas ainda são menos de 1% dos cargos de executivos-chefes, segundo relatório da consultoria McKinsey de 2012.

    Pathy afirma que as coisas têm mudado, mas apenas fora das empresas familiares. "A maioria das mulheres nesses negócios só assume o comando na ausência de filhos (homens)", conta.

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    Empresária indiana ampliou negócios da família nos últimos trinta anos
    Empresária indiana ampliou negócios da família nos últimos trinta anos

    Segundo a empresária, a história pode até ser diferente no setor de serviços, como bancos e empresas de tecnologia da informação. Mas, quando se trata da indústria manufatureira ou de engenharia, encontrar mulheres no topo é raridade.

    "Em um país grande como a Índia, há pouquíssimas mulheres dirigindo indústrias pesadas. Posso contá-las nos dedos de uma mão, o que realmente é uma pena."

    Além de a empresária controlar uma série de empresas, a família de seu marido tem outro conjunto de indústrias.

    Isso fará as coisas serem diferentes para sua filha?

    "Meu filho e a minha filha terão oportunidades iguais para cuidar da companhia que construí. Mas a escolha será deles", responde Pathy.

    Mesmo após ter vencido várias barreiras, ela lamenta que algumas coisas ainda não tenham mudado.

    "Na minha própria empresa... eu não posso ter um assento no conselho administrativo. Isso porque eu sou uma filha - eu não sou autorizada a participar."

    "Logo, (a sociedade indiana) ainda é, sim, uma sociedade feudal", opina.

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