• Cenários 2017

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    Moda verde e peças 'high-tech' serão tendências da indústria em 2017

    PEDRO DINIZ
    COLUNISTA DA FOLHA

    18/12/2016 02h00

    Um tom pálido de verde, o "greenery", deverá ser a cor de 2017 nas indústrias movidas por tendências, como a da moda. A grande novidade, porém, é que a escolha não se apoia em questões estéticas, mas sim na revisão geral das práticas sustentáveis em um cenário de catástrofe anunciada.

    A crise do algodão, puxada por quedas bruscas na colheita de potências têxteis como Índia, Paquistão e Estados Unidos, deve empurrar os preços das roupas para cima e forçar marcas a redimensionarem seus lucros e estratégias de produção.

    Bertrand Guay/AFP
    Modelo desfila óculos virtuais de Hussein Chalayan

    É aí que o modelo de grandes varejistas, como a sueca H&M e a espanhola Zara, cujas vendas fizeram seus donos alcançarem lucros recordes este ano, será posto à prova.

    Caso a fibra vegetal seja definitivamente substituída por tecidos derivados do petróleo, como o econômico poliéster, tempero das receitas exponenciais, cairá por terra todo o estardalhaço verde propagandeado pelas marcas. A fibra de garrafa PET tampouco deve ser opção, já que é consenso que mais agride do que protege o ambiente.

    Nesse cenário de pouco pano para manga, a questão da sustentabilidade passará a ser fundamental. No Brasil, grupos como Malwee e C&A já apresentaram planos para, até 2020, reduzir sua emissão de CO2 ou começar a usar mais matéria-prima orgânica.

    ALÉM DO 'LOOK'
    A cor verde também está em alta na moda de luxo, polo oposto das grandes redes varejistas. Circula a informação de que o grupo francês LVMH, dono de Louis Vuitton e Dior, cataloga produtores de materiais sustentáveis ao redor do globo.

    O Brasil está na lista de potenciais fornecedores de algodão orgânico, aposta do agronegócio nacional. Essa mudança no topo da cadeia alimentar da moda é impulsionada pela queda nas vendas e pode promover um efeito cascata pelo mundo.

    O movimento tem a ver também com a estagnação no consumo de luxo no hemisfério Norte, sequela dolorosa da crise de 2008.

    Nesse clima de mudanças, ganhou força a teoria de que a criatividade dos estilistas chegou ao limite, impulsionando um retorno às origens da confecção, apoiadas no trabalho manual, e, no último ano, uma curiosa união entre moda e tecnologia.

    O Google anunciou parceria com a marca americana Levi's para criar, a partir de nanotecnologia, um jeans sensível ao toque. Segundo fontes do mercado, as empresas estão perto de transformar calças em uma espécie de tela "touchscreen".

    Na mesma linha "sci-fi", o estilista cipriota Hussein Chalayan apresentou, na semana de moda de Paris, em outubro, um cinto conectado a óculos escuros. O acessório, feito pela Intel, exibe, em realidade aumentada, imagens criadas a partir do humor do usuário.

    Se essa revolução caminhar a passos tão rápidos, logo significará mais do que os (ainda) dispensáveis Apple Watches.

    Muito lixo ainda será vendido, mas 2017 será um ano para costurar um bem-vindo choque de realidade -nada virtual.

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