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    Maquiagem de chumbo dos antigos egípcios combatia infecções, dizem cientistas

    do New York Times

    22/01/2010 12h17

    No antigo Egito, acreditava-se que a elaborada maquiagem dos olhos usada pela rainha Nefertiti e outras mulheres tivesse poderes de cura, invocando a proteção dos deuses Hórus e Ra, além de evitar doenças.

    A ciência não aceita a mágica, mas considera os cosméticos de cura. A maquiagem à base de chumbo usada pelos egípcios possuía propriedades antibacterianas que ajudavam a evitar infecções comuns na época, de acordo com um relatório publicado neste mês no "Analytical Chemistry", uma publicação da Sociedade Americana de Química.

    "Isso é intrigante; eles foram capazes de construir uma forte e rica sociedade, então não eram completamente loucos", disse Christian Amatore, químico da Ecole Normale Superieure, em Paris, e um dos autores do artigo. Porém, eles acreditavam que essa maquiagem podia curar --entoavam cânticos enquanto faziam a mistura com coisas que hoje chamamos de lixo.

    Amatore e seus colegas pesquisadores usaram microscopia de elétrons e difração de raios-X para analisar 52 amostras retiradas de estojos de maquiagem egípcia preservados no Louvre.

    Eles descobriram que a maquiagem era feita fundamentalmente pela mistura de compostos químicos à base de chumbo: galena, que produzia tons escuros e brilhantes, e os materiais brancos cerussita, laurionita e fosgenita.

    Como as amostras haviam se desintegrado ao longo dos séculos, os pesquisadores não puderam determinar a porcentagem de chumbo na maquiagem.

    Embora muitos textos escritos, pinturas e estátuas do período indiquem que a maquiagem era amplamente usada, os egípcios a viam como algo mágico e não medicinal, disse Amatore.

    Fabrizio Bensch/Reuters
    Mulher observa estátua de Nefertiti, rainha egípcia, durante uma visita da imprensa ao Neues Museum, em Berlim
    Mulher observa estátua de Nefertiti, rainha egípcia, durante uma visita da imprensa ao Neues Museum, em Berlim

    Infecções

    No antigo Egito, na época em que o Nilo transbordava, os egípcios sofriam com infecções causadas por partículas que entravam no olho e traziam doenças e inflamações.

    Os cientistas argumentam que a maquiagem com chumbo agia como uma toxina, matando as bactérias antes que se disseminassem.

    Porém, embora sua pesquisa proporcione uma fascinante percepção de uma antiga cultura, os cientistas afirmam que a maquiagem não deve ser usada todos os dias.

    Amatore explicou que a intoxicação dos compostos de chumbo ofuscava seus benefícios e que existem muitos casos documentados de envenenamento como resultado do uso do chumbo em pinturas e soldagens no século 20.

    Neal Langerman, físico-químico e presidente da Advanced Chemical Safety, uma empresa de consultoria de segurança na saúde e proteção ambiental, afirmou: "Você não deve fazer isso em casa, especialmente se tiver criança pequena ou um cachorro que gosta de lambê-lo".

    Beleza e perigo

    Mesmo assim, segundo Langerman, faz sentido que os egípcios fossem atraídos pelos compostos.

    "Chumbo e arsênico, entre outros metais, fazem lindos pigmentos de cor", disse ele. "Como eles criam cores atraentes e você pode transformá-los em pó, faz muito sentido usá-los como corantes de pele".

    A questão do chumbo na maquiagem continua a ser debatida na indústria de cosméticos, particularmente em relação às pequenas quantidades de chumbo encontradas em alguns batons.

    Embora alguns grupos e médicos argumentem que, com o tempo, usuários de batom podem absorver níveis de chumbo capazes de resultar em problemas de comportamento, a FDA --agência que regulamenta a produção e venda de diversos produtos nos Estados Unidos-- afirma que as quantidades de chumbo encontradas em maquiagens são pequenas demais para causar danos.

    "É a dose que faz o veneno", disse Langerman, parafraseando o médico renascentista Paracelso. "Uma dose baixa mata as bactérias. Numa dose alta, a quantidade absorvida é demais".

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