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    James Watson, pioneiro do DNA, ataca atual 'guerra contra o câncer'

    DA REUTERS

    09/01/2013 12h48

    James Watson, um dos descobridores da estrutura de dupla hélice do DNA, criticou, em um artigo publicado esta semana na revista científica "Open Biology", a atual política americana na "guerra contra o câncer"

    Sobre o projeto de US$ 100 milhões para determinar as mudanças no DNA que levam a nove formas de câncer, escreveu: "é improvável que isso produza o verdadeiro avanço que nós desesperadamente precisamos". Sobre a ideia de que antioxidantes como os presentes em frutas coloridas, escreveu: "é hora de nos perguntarmos se os antioxidantes mais causam ou previnem o câncer."

    Apesar das ideias controversas de Watson, há um amplo consenso na comunidade científica de que as abordagens atuais não estão trazendo o progresso prometido. Boa parte do declínio na mortalidade de câncer nos EUA reflete, por exemplo, a diminuição do número de fumantes, não o acesso a uma nova terapia.

    "A grande esperança da pesquisa moderna do câncer foi utilizar o DNA sequenciado para saber quais os genes específicos que, quando alvo de mutações, causam cada tipo de câncer", disse o biólogo molecular Mark Ptashne. Depois, utilizar uma droga capaz de bloquear a proliferação descontrolada causada pela mutação.

    Mas quase nenhum destes tratamentos cura a doença. "Essas novas terapias funcionam somente por alguns meses", disse Watson à Reuters numa rara entrevista. "Além disso, nós não temos nada para os grandes cânceres, como o de pulmão, de intestino e o de mama"

    A principal razão da razão pela qual terapias genéticas não são curas é que as células cancerosas têm uma forma de contorná-las. Se uma trilha bioquímica para o crescimento e proliferação é bloqueado por uma droga, células cancerígenas conseguem ativar uma trilha diferente.

    Essa é a razão pela qual Watson defende uma abordagem diferente: procurar as características que todas as células cancerígenas têm em comum, especialmente os cânceres que causam metástase.

    Uma característica em comum são os radicais de oxigênio. Essa forma de oxigênio consegue arrancar componentes das células, como o DNA. Essa é a razão pela qual antioxidantes, supõe-se, podem ajudar: eles conseguem exterminar radicais de oxigênio.

    Esse quadro torna-se mais complexo, no entanto, uma vez que o câncer já existe. Radioterapia e algumas quimioterapias matam células cancerígenas por meio da geração de radicais de oxigênio, o que favorece o "suicídio" celular. Se um paciente vem recebendo doses de antioxidantes ele pode impedir tais terapias de funcionarem.

    "Todos pensam que antioxidantes são ótimos", disse Watson". "Mas eu digo que eles podem nos impedir de matar células cangerígenas".

    "ANTI-ANTIOXIDANTES"

    Pesquisam apoiam Watson. Vários estudos têm mostrado que ingerir antioxidantes, como a vitamina E, não reduz o risco de câncer, mas, na verdade, aumenta a chance de tê-lo. E eles podem até reduzir a expectativa de vida. Mas drogas que bloqueiam os antioxidantes - os anti-antioxidantes - podem tornar mais efetivo até tratamentos atuais contra o câncer.

    Algo que mantenha as células cancerígenas cheias de radicais de oxigênio "provavelmente ajudará qualquer tratamento", disse Roberto Benzera, biólogo especialista em câncer.

    Um alvo esquivo mas promissor, disse Watson, é uma proteína chamada Myc. Ela controla mais de 1000 moléculas dentro das células, incluindo muitas envolvidas no câncer. Estudos sugerem que "desligar" Myc levaria as células cancerígenas à auto destruição, num processo chamado apoptose.

    Mirar Myc, entretanto, pode ser um obstáculo para o desenvolvimento de drogas. A "medicina personalizada", que procura as mutações específicas que causam câncer nos pacientes, atrai a maior parte do dinheiro das pesquisas.

    "O maior obstáculo" para uma verdadeira guerra contra o câncer, Watson escreve, pode ser "a natureza inerentemente conservadora da pesquisa atual do câncer." Se seguirmos assim, a cura do câncer estará sempre a 10 ou 20 anos de distância.

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