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    Cientistas brasileiros testam ayahuasca para depressão e parkinson

    MORRIS KACHANI
    DE SÃO PAULO

    21/12/2013 02h45

    Estudo realizado por pesquisadores da Unifesp e da USP indica que a ayahuasca pode ter efeitos terapêuticos em casos de depressão e mal de Parkinson.

    A ayahuasca, usada em rituais religiosos como o Santo Daime, é uma bebida produzida a partir do cipó e da folhagem de duas plantas amazônicas.

    Um de seus componentes é a dimetiltriptamina, que se assemelha ao LSD (ácido lisérgico). Em altas doses, pode produzir alucinações.

    No experimento, os pesquisadores administraram soluções com dosagens variadas, além de placebo, a roedores. A estrutura cerebral de cada grupo foi comparada. Os cientistas concluíram que no cérebro dos animais que tomaram ayahuasca houve diferentes níveis de produção de neurotransmissores –noradrenalina, dopamina e serotonina.

    Os neurotransmissores propagam estímulos entre os neurônios. Após a ação, eles são recaptados ou destruídos por enzimas. A ayahuasca inibe as enzimas e concentra os neurotransmissores nas fendas sinápticas, fazendo com que eles tenham uma ação mais prolongada, o que potencializa suas ações.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Depressão e parkinson são doenças ligadas à disfunção na produção desses neurotransmissores.

    "Já se sabia que alguns componentes da ayahuasca poderiam agir como antidepressivos. Mas não era sabido que eles alteravam a liberação de neurotransmissores em áreas cerebrais específicas", afirma Maria da Graça Naffah Mazzacoratti, do departamento de bioquímica da Unifesp, que participou da pesquisa.

    Segundo ela, o estudo é pioneiro em mostrar que a ayahuasca age de formas peculiares no hipocampo (área relacionada a aquisição de memória) e na amígdala (ligada a emoções).

    Para Dartiu Xavier da Silveira, professor de psiquiatria da Unifesp e um dos responsáveis pelo estudo, alguns dos achados sugerem que o ayahuasca possa vir a ser um recurso para outras doenças, como dependência química e ansiedade.

    "Os tratamentos dessas doenças não funcionam para todos os pacientes. Cerca de um terço dos pacientes não melhora com nenhum antidepressivo disponível."

    Para o psiquiatra André Malbergier, do Hospital das Clínicas da USP, o estudo deve ser encarado com cautela. "O fato de a ayahuasca concentrar os neurotransmissores nas fendas sinápticas não significa que seja eficaz contra depressão", diz o médico.

    "Outras drogas como as anfetaminas e a cocaína também agem como inibidoras e nem por isso são recomendadas", acrescenta.

    Malbergier lembra que a toxicidade da ayahuasca também deve ser examinada. "Existe um grande risco de psicose por se tratar de uma droga psicodélica. E ayahuasca é contraindicada em transtornos cardíacos e doenças hepáticas. A interação com antidepressivos também não é recomendada", diz.

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