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    Teste não invasivo detecta malária em 20 segundos

    RICARDO BONALUME NETO
    DE SÃO PAULO

    09/01/2014 02h50

    Imagine colocar o dedão em um detector eletrônico e, 20 segundos depois, saber se você tem ou não malária. Assim é uma técnica demonstrada como potencialmente viável num estudo publicado na revista da Academia de Ciências dos EUA, a "PNAS".

    As vantagens de usar esse aparelho seriam revolucionárias em termos de saúde pública. Serviria para monitorar uma doença tropical letal causada por picadas de mosquitos que chupam o sangue –e, no processo, transferem o parasita causador da enfermidade ao seu organismo.

    Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress

    A malária é uma doença de países pobres, embora no passado fosse presente em quase toda a Europa. Hoje mata sobretudo crianças na África. A incidência da doença caiu na última década, mas ainda é devastadora.

    Segundo a Organização Mundial da Saúde, a malária afetou 207 milhões de pessoas e matou 627 mil em 2012, apesar de ser uma doença relativamente fácil de prevenir (com mosquiteiros e inseticida) e de curar (com fármacos), embora o parasita tenha desenvolvido resistência a muitas drogas. A boa notícia é que as mortes caíram 45% desde o ano 2000.

    Mas a boa notícia tem um lado problemático. Quanto mais um país fica livre da doença, menos ele tende a investir na sua detecção, correndo o risco de uma epidemia voltar de repente.
    Turistas de regiões sem malária são especialmente vulneráveis quando visitam locais onde a doença é comum –como um italiano que vai à Tanzânia ou um paulista que passeia na Amazônia.

    Logo, uma técnica simples, barata, capaz de ser usada rotineiramente por pessoal sem treinamento especializado seria uma ótima solução para monitorar a doença.

    Foi o que fez a equipe de Dmitri Lapotko, da Universidade Rice, de Houston, Texas, um pesquisador natural de Belarus que dirige um laboratório binacional na instituição americana.

    Lapotko e colegas usaram pulsos ultrarrápidos de laser para detectar uma substância produzida pelo parasita da malária ao invadir células vermelhas do sangue.

    O parasita tem um ciclo de vida no mosquito transmissor e no ser humano. Ataca o fígado e as células do sangue. Ao invadir o glóbulo vermelho, digere a hemoglobina e cria um subproduto, chamado de cristais de hemozoína.

    O pulso de laser energiza a hemozoína e produz uma pequena bolha de vapor, detectável pelos instrumentos dos cientistas. Os experimentos envolveram células humanas e camundongos.
    Foi possível achar uma célula infectada em meio a 1 milhão de células saudáveis. Como não houve dano às células normais ou aos camundongos, a técnica vai agora ser testada em humanos.

    "Esperamos começar em poucas semanas. Será a primeira demonstração em humanos da tecnologia em um número limitado de pacientes", disse Lapotko à Folha.

    O cientista está otimista quanto aos resultados e acredita que um aparelho simples baseado nessa tecnologia poderia testar 200 mil pessoas por ano, bem mais rápido do que com os testes atuais –e pela metade do preço. O cientista acredita que, em um ano após a obtenção de financiamento –algo que o grupo ainda não tem–, o aparelho estaria disponível às clínicas.

    Quando o laser atinge a célula infectada, ele faz mais do que detectar o parasita: ele explode o alvo. Ou seja, a técnica teria potencial terapêutico? "Sim, já demonstramos o efeito terapêutico, e o estudo está sendo enviado para publicação", diz Lapotko.

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