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    Análise: Boa sorte para Rosetta,a sonda que pretende pousar em um cometa

    RICARDO BONALUME NETO
    DE SÃO PAULO

    20/01/2014 19h05

    Março de 1986, janeiro de 2014. Há duas coisas em comum entre essas duas datas. Foram dois momentos em que técnicos, cientistas e engenheiros europeus –em geral céticos— cruzaram os dedos por conta de uma sonda espacial e de um cometa. E alguns jornalistas também.

    E todos ficaram aliviados, mesmo depois de horas ou apenas minutos de muita angústia

    Em 1986, a sonda europeia Giotto se aproximou do cometa Halley. Em 2014, a sonda europeia Rosetta saiu de uma "hibernação" de quase três anos e religou seus instrumentos a caminho do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko.

    Nos dois casos, havia um desafio tecnológico: enviar a sonda para um encontro em um lugar muito preciso do sistema solar; e fazer com que os instrumentos a bordo funcionassem a ponto de enviar informações científicas importantes.

    Quando a Giotto cruzou a cauda do cometa, muita gente cruzou os dedos. Não havia internet então, comunicações eram mais tradicionais. Jornalistas de ciência em todo o planeta aguardavam ansiosos novas informações (incluindo eu, de plantão na redação da Folha, neste distante 1986).

    J. Mai/ESA
    Cientistas comemoram a chegada do sinal de rádio da sonda espacial Rosetta
    Cientistas comemoram a chegada do sinal de rádio da sonda espacial Rosetta

    Foi um alívio ver as primeiras imagens enviadas pelas agências noticiosas do encontro com o cometa. A sonda sobreviveu, apesar de alguns problemas, como o impacto de partículas que quase cortaram a comunicação com a Terra e a coleta de dados. Foi mais uma meia hora de angústia.

    Mais de duas décadas depois, a tecnologia se aperfeiçoou muito –mas a angústia continua a mesma. A sonda Rosetta é bem mais sofisticada que a Giotto –mas, às vezes, a tecnologia mais avançada também é mais frágil, vulnerável tanto ao impacto do lançamento por um foguete, como pela viagem interplanetária.

    E o processo de despertar da sonda foi necessariamente demorado... E, graças à internet, foi possível sentir o drama ao vivo e a cores (ou será "em cores"?).

    Dá pra entender o suspense quando se pensa que uma missão espacial é algo que dura muitos anos, desde o planejamento, até a construção da sonda e a implementação da missão. Um engenheiro ou cientista pode ficar uma década esperando pelo resultado! Que, em questão de minutos, pode desaparecer para sempre.

    Em visita no ano passado a instalações da Astrium, empresa europeia que construiu a Rosetta, foi possível ver como a fabricação de uma sonda como esta, ou de um hoje prosaico satélite de comunicação, envolve muito perfeccionismo. Se a sonda falha a caminho do cometa, não há como enviar uma equipe técnica para resolver o problema... Cada parafuso ou chip tem que estar em plena forma.

    Uma entrevista resumiu a coisa. Eis uma declaração do engenheiro Gunther Lautenschlaeger, gerente do projeto Rosetta na empresa Astrium:

    "Eu estou esperando nervosamente o despertar da Rosetta em janeiro de 2014. Interessado em saber como o 'nosso bebê' sobreviveu a mais de dois anos sem nenhum contato com a Terra. Então eu creio que a sonda vai se encontrar precisamente com o cometa, e escoltá-lo chegando mais perto do Sol. Aqui começará a incerteza, com coisas como erupções e poeira. Mas eu acho que a Rosetta vai superar esses desafios, pois foi projetada para sobreviver."

    Por enquanto ele acertou. Boa sorte, Rosetta!

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