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    Pintura de Van Gogh deteriorada ganha retoque digital de cores

    MARCELO LEITE
    ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO

    17/02/2014 02h00

    A ciência ressuscitou as "flores flamejantes", pintura de Van Gogh de que fala o compositor americano Don McLean na canção "Vincent". Mas só digitalmente, porque os pesquisadores de Delft (Holanda) e Antuérpia (Bélgica) descobriram que sua doença não tem cura.

    A tela "Flores em Vaso Azul" foi terminada por Vincent Van Gogh em 1887. Como de hábito, o holandês não protegeu a superfície da pintura com verniz. Isso só foi feito por colecionadores privados muito depois do suicídio do artista em 1890.

    O amarelo das flores vinha de um pigmento baseado em compostos químicos com o metal cádmio. Em 2009, conservadores verificaram que algumas das flores estavam ficando vermelho-acinzentadas. Normalmente, o amarelo à base de cádmio desbota, mas não muda de cor.

    Joris Dik/Divulgação
    À esquerda, uma fotografia de "Flores em Vaso Azul", de Van Gogh; à direita, a restauração virtual
    À esquerda, uma fotografia de "Flores em Vaso Azul", de Van Gogh; à direita, a restauração virtual

    Foi preciso submeter uma amostra diminuta da tinta afetada a potentes raios X gerados por aceleradores de partículas para desvendar o mistério, mostrou Joris Dik, da Universidade de Delft, na reunião anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS), em Chicago.

    O exame permitiu pôr a culpa no verniz. Reações químicas na camada de contato com o pigmento produziram oxalato de cádmio, o responsável pelos tons de vermelho e cinza. Oxalatos são substâncias que se formam em outros pigmentos, mas nunca antes haviam sido detectados no material de cádmio.

    O diagnóstico micrométrico, porém, não comporta perspectiva alguma de terapia para a pintura deteriorada. Os átomos de cádmio no oxalato, vindos da tinta, estão entranhados no verniz, o que impede que este seja removido da tela. O processo implicaria alterar a camada original de pintura, o que ninguém se dispõe a fazer.

    "Estamos ainda na fase de despertar consciência [de responsáveis pela conservação]", disse Dik em apresentação na reunião da AAAS. Só restou aos cientistas mapear a distribuição de cádmio na tela e ressuscitar de forma digital as flores flamejantes de Van Gogh.

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