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    Brasileiros na Antártida contam como é passar o Carnaval longe do país

    GIULIANA MIRANDA
    ENVIADA ESPECIAL A ANTÁRTIDA

    09/03/2014 16h37

    Em pleno sábado de Carnaval, enquanto milhões de brasileiros tomavam as ruas para aproveitar a folia, o Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rongel iniciava no porto de Punta Arenas, no Chile, a última viagem rumo à Antártida nesta temporada, a 32ª segunda organizada pelo Brasil.

    Além dos 85 membros da tripulação, pelo menos outras 160 pessoas, entre cientistas e pesquisadores, não tiveram descanso nem no Carnaval. São eles os responsáveis por tocar as pesquisas brasileiras na Antártida.

    O período útil de trabalho no continente gelado se aproxima do fim -as viagens são interrompidas com o fim do verão, já neste mês. Com isso, todos se dedicam em um último esforço para terminar os projetos, antes que o gelo e as baixas temperaturas inviabilizem as atividades na região do Polo Sul.

    Toni Pires/Folhapress
    Navio de Apoio Oceanógrafo Ary Rongel ancorado na enseada Martel, na Antártida
    Navio de Apoio Oceanógrafo Ary Rongel ancorado na enseada Martel, na Antártida

    Além da Estação Antártica Comandante Ferraz, que após ser destruída em um incêndio em 2012 funciona atualmente em contêineres provisórios, as pesquisas brasileiras acontecem também em dois navios oceanográficos de pesquisa polar, além de acampamentos espalhados pelo continente gelado e no módulo de pesquisa Criosfera 1.

    "Dá um certo aperto no coração pensar em como está o carnaval em Olinda", brinca o meteorologista da embarcação, Carlos André de Araújo Moreira. Pernambucano e fã de frevo, ele diz que está sofrendo ao pensar na folia nordestina.

    "Estar na Antártida sempre foi um sonho para mim. Estou muito feliz de estar servindo aqui ao meu país. Mas era uma alegria o Galo da Madrugada, a Feijoada do Rei [evento que era promovido por Reginaldo Rossi]...", completa Carlos André, que calcula estar longe do Carnaval, por conta do trabalho, pelo menos desde 2008.

    No domingo de Carnaval, por volta das 23h, um oficial se lamentava na sala de convivência: "Hoje é dia do Salgueiro desfilar. O samba esse ano está tão bonito", resignou-se o carioca, antes de voltar para seu posto de trabalho.

    Com transmissão de dados via internet bastante limitada e sem televisão a cabo, os brasileiros nos navios se viram como podem para matar o tempo e desanuviar o clima no carnaval.
    No Ary Rongel, uma ceia especial com pizza e sobremesa caprichada fez com que muitos se animassem.

    A alegria, no entanto, foi logo dando espaço para a preocupação com a temida travessia do Drake. A navegação nesse estreito, a junção das águas do Atlântico Sul e do Pacífico, é considerada uma das piores do mundo, com ondas que podem passar dos dez metros de altura.

    Para chegar até a Antártida, é preciso enfrentar estas revoltosas águas, o que deixa todo o navio um pouco apreensivo, e requer cuidados redobrados para que materiais e equipamentos não se desprendam durante os saculejos. E nem que a tripulação fique mareada.

    Para quem já estava na Antártida, no entanto, as condições foram um pouco melhores. O sistema de internet e telefonia mais rápido, além de canais brasileiros por TV a cabo, permitiram que o grupo em Ferraz acompanhasse o carnaval brasileiro mais de perto.

    "É, às vezes dá saudade, uma vontade de estar lá. Mas estar aqui também é um privilégio. Não me arrependo", resume o meteorologista Carlos André.

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