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    Brasileiros descobrem anéis em asteroide

    SALVADOR NOGUEIRA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    26/03/2014 18h25

    Astrônomos brasileiros descobriram um asteroide que possui anéis. É a primeira vez que essas estruturas são encontradas num objeto celeste que não fosse um planeta gigante.
    O trabalho, que tem como primeiro autor Felipe Braga-Ribas, do Observatório Nacional, foi publicado com toda pompa e circunstância na edição desta semana da revista "Nature".

    O asteroide em questão já era conhecido e é chamado Chariklo. Trata-se de um objeto vulgar, com cerca de 250 km de diâmetro, que pertence à classe dos centauros _nome dado aos objetos de pequeno porte que orbitam o Sol entre Júpiter e Netuno.

    No caso específico, o objeto está numa trajetória oval entre Saturno e Urano _em tese muito distante para que imagens de telescópio revelassem algo mais que um pontinho.

    Contudo, Braga-Ribas e seus colegas são especialistas em usar uma estratégia especial para estudar corpos celestes nas profundezas do Sistema Solar. Trata-se do monitoramento de ocultações.

    Lucie Maquet
    Concepção artística do anel identificado em torno do asteroide Chariklo
    Concepção artística do anel identificado em torno do asteroide Chariklo

    Uma ocultação acontece quando um objeto passa à frente do outro no céu. (Na semana passada, os amantes da observação celeste puderam testemunhar a olho nu um evento desse tipo, quando a Lua encobriu o planeta Saturno por cerca de 1h.)

    No caso em questão, o Chariklo ia passar à frente de uma estrela distante, em 3 de junho de 2013. Quando isso acontece, os cientistas podem descobrir várias coisas que não são visíveis em outras circunstâncias. Por exemplo, ao medir o tempo de duração do trânsito, é possível estimar com razoável precisão o tamanho do objeto.

    REUNIÃO DE TELESCÓPIOS

    Diversos pontos de observação foram estabelecidos no Brasil, na Argentina, no Uruguai e no Chile, e o que se viu foi não uma única ocultação, mas uma sequência de obstruções rápidas do fluxo luminoso da estrela de fundo.

    O padrão observado indicava a existência de dois anéis em torno do asteroide, um com 7 km de espessura, e o outro com 3 km.

    Essa identificação precisa só foi possível graças ao Telescópio Dinamarquês do ESO (Observatório Europeu do Sul), em La Silla, no Chile. Ele foi o único, dentre todos os usados no esforço de observação, a detectar a divisão entre os anéis.

    O governo Lula assinou em 2010 um acordo para fazer parte do ESO, mas o acerto ainda pende por aprovação do Congresso Nacional. Mesmo assim, o consórcio já concedeu direito pleno de uso aos pesquisadores do Brasil.

    PERSISTENTES

    Seriam os anéis detectados um traço momentâneo, talvez resultado de uma colisão, ou uma característica persistente desse asteroide? Os pesquisadores apostam na segunda opção.
    "Acreditamos que eles sejam estáveis" disse à Folha Braga-Ribas. "Também achamos que haja pelo menos um pequeno satélite atuando como pastor dos anéis, deixando-os estreitos e criando a divisão entre eles."

    A observação inédita é um ótimo ponto de partida para a compreensão de como se formam essas estruturas, marcantes sobretudo em Saturno, mas também presentes nos demais planetas gigantes.

    "Aparentemente, os mesmos mecanismos dinâmicos que explicam os anéis dos planetas gigantes atuam nos de Chariklo, mesmo que sejam ordens de grandeza menores", diz Braga-Ribas.

    FUTURO

    De apenas mais um objeto da vasta população dos centauros, o Chariklo passou agora a ter atenção especial.

    Faz parte dos planos dos pesquisadores seguir adiante com o esforço de caracterizar esse objeto.

    "Estamos considerando pedir tempo no Telescópio Espacial Hubble para observar o sistema", conta o astrônomo brasileiro. "Mas o tamanho dele é equivalente a dois pixels do Hubble, então levaremos as técnicas de imagem ao limite de sua capacidade."

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