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    Instituições campeãs investem na meritocracia entre cientistas

    FERNANDO TADEU MORAES
    DE SÃO PAULO

    02/06/2014 01h52

    No Impa (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada), nas franjas da floresta da Tijuca, no Rio, a valorização do mérito é o principal fator para o sucesso da instituição, diz o seu diretor, César Camacho.

    Pequeno –tem pouco mais de 50 pesquisadores– e extremamente seletivo, o Impa é, proporcionalmente, o instituto de pesquisa com mais publicações de impacto no país, segundo o ranking da Universidade de Leiden. Quase 13% dos artigos do instituto entre 2003 e 2012 são de alto impacto.

    "Procuramos permanentemente pesquisadores muito qualificados dentro de uma política de mérito e da busca pelo melhor que existe no mundo", diz Camacho.

    Em 2013, um dos seus pesquisadores, Fernando Codá, junto com colega português, conseguiu provar a conjectura de Willmore, um dos problemas mais importantes em aberto da geometria diferencial, que estabelece qual seria a melhor forma geométrica para uma rosca (ou toro, na linguagem matemática). A conjectura tem aplicações em questões da relatividade geral e da biologia celular.

    Na Fiocruz, a primeira colocada em números absolutos, o destaque são os mecanismos internos de fomento à pesquisa, fundos com recursos da própria Fiocruz disputados pelos pesquisadores.

    "São estimuladores da excelência e de uma competição saudável entre os pesquisadores", explica Paulo Gadelha, presidente da Fiocruz, que destaca a "relação simbiótica" entre ensino e pesquisa como um dos pontos fortes da instituição.

    Na fundação são executados atualmente mais de mil projetos, relacionados sobretudo ao controle de doenças como a Aids e a doença de Chagas, além de outros temas ligados à saúde coletiva.

    A Fiocruz participou recentemente de estudo sobre combinação de antirretrovirais ministrados a recém-nascidos para evitar a transmissão do HIV da mãe para o filho. O resultado da pesquisa alterou o padrão de tratamento da doença em todo o mundo e foi incorporada aos manuais da Organização Mundial da Saúde.

    FLEXIBILIDADE
    Entre os dez institutos de pesquisa mais bem colocados no ranking, dois deles, o Impa e o LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncrotron), não possuem administração pública direta, são as chamadas OS (Organizações Sociais) -na prática, instituições privadas que estabelecem um contrato com o governo federal.

    Esse regime dá maior liberdade para os institutos contratarem (e demitirem) e para realizarem compras de materiais e equipamentos.

    Gilberto Câmara, ex-diretor do Inpe, diz que o atual modo de administração pública, com licitações de menor preço e estabilidade no emprego, minam a meritocracia e prejudicam as instituições. "Dentro do arcabouço legal brasileiro, a OS é a melhor solução possível".

    Para Paulo Gadelha, presidente da Fiocruz, há mecanismos dentro da administração pública para promover a meritocracia. "Os concursos públicos e a progressão na carreira enfatizam a meritocracia". Ele também ressalta a competição interna na instituição por fundos de pesquisa da própria fundação.

    Gadelha defende, no entanto, que algumas amarras burocráticas sejam flexibilizadas. "O que não implica que o modelo de OS deva ser universalizado."

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