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    Pedras de Stonehenge podem ter sido usadas como instrumento de percussão

    DOUGLAS QUENQUA
    DO "NEW YORK TIMES"

    24/06/2014 02h00

    É uma cena conhecida: milhares de pessoas reunidas em Stonehenge para festejar, cantar, tocar tambores e farrear sob a alvorada. Não faltam teorias sobre os propósitos do monumento, mas surgiram novos indícios de que o local sempre teve por objetivo sediar festividades ou, mais especificamente, ser palco de shows.

    Pesquisadores descobriram que algumas das rochas que integram o monumento, se percutidas, produzem um barulho forte e estridente. Eles dizem que isso talvez explique por que essas rochas foram escolhidas e carregadas por cerca de 300 quilômetros até o local, um feito técnico significativo, 4.000 anos atrás.

    Será que Stonehenge foi construído para servir como um instrumento pré-histórico de percussão?

    "As pessoas gostariam de saber por que as bluestones foram transportadas a Stonehenge", diz Paul Devereux, um dos autores do estudo. De fato, os cientistas sabem há muito tempo que muitas das rochas de Stonehenge vieram das colinas Preseli, no oeste do País de Gales. O que nunca esteve claro foi o motivo.

    A ideia de que essas rochas fossem usadas para produzir música -ou barulho- ocorreu a Devereux e seu colega Jon Wozencroft, do Royal College of Art, durante uma viagem a Preseli em busca de sons do passado.

    Eles descobriram que, em algumas áreas de Preseli, uma rocha conhecida como diabásio, ou dolerito, um dos tipos de rochas encontrados em Stonehenge, produzia um som parecido com o de um sino metálico quando percutida. Em julho de 2013, os pesquisadores receberam permissão para testar algumas das rochas diabásicas de Stonehenge. Já que as bluestones (termo britânico para todas as rochas do local) de Stonehenge estão fincadas no solo, as expectativas não eram elevadas.

    "É preciso que exista algum espaço, algum ar, em torno delas para que ressoem", disse Devereux. Mesmo assim, muitas das pedras produziram sons ocos, semelhantes aos de sinos. Algumas também pareciam portar marcas de percussão. Devereux e Wozencroft não são os primeiros a perceber que as rochas de Preseli ecoam: uma cidade próxima leva o nome de Maenclochog, que significa "pedras tilintantes". Algumas igrejas locais usavam essas pedras como sinos até o século 18.

    Há pedras sonoras em Gales, na Suécia, na China, na Austrália e nos Estados Unidos. Entre as culturas da antiguidade, pedras que produzem sons eram ocasionalmente vistas como dotadas de poderes místicos. Isso pode explicar por que as rochas sonoras estão em Stonehenge.

    Por que algumas rochas ecoam quando percutidas? "Elas não são ocas, como as pessoas tendem a acreditar", diz Maja Hultman, arqueóloga da Universidade de Uppsala, na Suécia. O som tampouco é causado por fendas nas pedras. As fendas provavelmente resultam de elas terem sido percutidas, diz Hultman.

    Lawrene Malinconico, geólogo do Lafayette College, na Pensilvânia, atribui a sonoridade a uma combinação de densidade e composição. O diabásio, com presença abundante de ferro e magnésio, passou cerca de 170 milhões de anos sob a terra antes de emergir e esfriar. "Quando as rochas esfriam, o processo se parece com o de forja de um sino de ferro fundido", diz Malinconico. As rochas são densas o bastante para produzir um som agudo.

    A revelação de que Stonehenge servia para fazer barulho pode não resolver a discussão sobre o seu propósito original, diz Devereux, mas ele espera que a descoberta encoraje os arqueólogos a considerar o que os antigos ouviam, além daquilo que viam e faziam.

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