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    Cientistas criam "marca-passo transgênico" em estudo com porcos

    REINALDO JOSÉ LOPES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    17/07/2014 02h17

    A inserção de um único gene em células do coração de porcos com problemas cardíacos foi suficiente para transformá-las num marca-passo biológico, devolvendo ao coração dos bichos seu ritmo normal.

    A estratégia, bolada por cientistas nos EUA e em Taiwan, tem potencial para ajudar pessoas cujos organismos rejeitam os marca-passos eletrônicos disponíveis hoje e, no futuro, poderia até substituí-los totalmente.

    O feito, descrito na revista especializada "Science Translational Medicine", em edição publicada nesta quarta-feira (16), foi coordenado por Eduardo Marbán, do Instituto do Coração Cedars-Sinai, em Los Angeles.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Os pesquisadores intuíram que seria possível chegar a esse marca-passo biológico porque, afinal de contas, ele já existe em corações normais.

    Trata-se do chamado nódulo sinoatrial, uma região desses órgãos que abriga células especializadas, responsáveis por lançar impulsos elétricos. São esses pequenos "choques" que mantêm afinado o ritmo cardíaco.

    Para que essas células assumam sua função, é crucial o gene TBX18, que contém a receita de um fator de transcrição (molécula que liga e desliga outros genes).

    O caminho a seguir, portanto, não era complicado: inserir esse gene em células do coração "" o que os pesquisadores fizeram por meio de um cateter, levando vírus geneticamente modificados para carregar esse pedaço de DNA.

    "Essencialmente, o que nós fizemos foi criar um novo nódulo sinoatrial", declarou Marbán em entrevista coletiva. Os porcos que passaram pelo cateterismo sofriam de bloqueio cardíaco de terceiro grau, uma doença do coração que deixava seus batimentos cardíacos em níveis muito baixos –apenas 50 batidas por minuto, causando desmaios e vertigens.

    Após o procedimento, essa situação se normalizou, permitindo inclusive que eles fizessem exercícios sem dificuldade.

    O efeito durou apenas duas semanas. "Mas achamos que ele pode até se tornar permanente", afirmou Marbán. Os pesquisadores consideram que o risco de usar o vírus é baixo, porque sua ação fica restrita ao local afetado pelo cateterismo.

    Por enquanto, o objetivo deles é testar a abordagem em pessoas que sofrem de infecções graves causadas pelos marca-passos eletrônicos, que poderiam ter uma "folga" do aparelho enquanto se recuperam.

    Também seria interessante usar o gene para ajudar bebês que, ainda na barriga da mãe, apresentam defeitos em seus marca-passos naturais –nesses casos, não é possível colocar o aparelho, e os bebês podem acabar morrendo logo após o parto.

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