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    Grupo faz mapeamento detalhado da matéria escura no Universo

    SALVADOR NOGUEIRA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    28/07/2014 01h50

    Um grupo internacional de pesquisadores acaba de concluir um mapeamento detalhado da distribuição da misteriosa matéria escura pelo Universo.

    Ninguém sabe exatamente do que ela é feita, o que se torna ainda mais constrangedor diante do fato de que a matéria escura responde por 80% de toda a matéria do Cosmos.

    Os novos resultados parecem apoiar o modelo mais popular entre os cientistas, segundo o qual a matéria escura é composta por partículas que se movem a velocidades muito inferiores às da luz e que, apesar de ter massa, interagem muito fracamente com a matéria convencional.

    Contudo, o estudo ainda está longe de ser capaz de discriminar de forma definitiva entre os diversos modelos cosmológicos possíveis.

    "Ainda há muitas alternativas que se encaixam", disse à Folha Martín Makler, pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) que participou do trabalho, publicado no periódico "Monthly Notices of the Royal Astronomical Society".

    Editoria de arte/Folhapress

    O MAPA DO INVISÍVEL
    Não é trivial realizar um mapeamento de uma forma de matéria que não emite luz e, portanto, é invisível.

    Os cientistas precisam recorrer ao único efeito detectável produzido pela matéria escura: a gravidade que ele exerce sobre os objetos visíveis.

    Em particular, o grupo, que tem pesquisadores da Suíça, da França, do Canadá, da Alemanha e do Brasil, explorou um fenômeno que foi primeiro previsto pela teoria da relatividade geral, de Albert Einstein: as lentes gravitacionais.

    É a ideia de que um corpo celeste mais próximo que esteja entre nós e outro objeto mais distante faz com que os raios de luz do objeto afastado se curvem suavemente, do mesmo jeito que a refração de uma lente convencional faz.

    Como a matéria escura representa muito mais massa do que a convencional, seu efeito nas lentes gravitacionais é pronunciado. Ao detectar as distorções nos caminhos da luz, é possível estimar a quantidade de matéria escura no espaço que separa o objeto mais distante de nós.

    O resultado do esforço, feito com o Telescópio Canadá-França-Havaí, é um mapa bidimensional sem profundidade, portanto da distribuição da matéria escura, que cobre uma faixa do céu com 170 graus quadrados de área.

    RESOLUÇÃO
    Uma das novidades importantes do novo estudo é que os pesquisadores incluíram no mapa as concentrações não muito grandes de matéria escura _os chamados picos baixos.

    "Com isso ganhamos muito mais 'objetos' e, portanto, precisão na medida", destaca Makler.

    O resultado também traz consigo novos mistérios. Os pesquisadores encontraram por exemplo alguns picos que não correspondem a grupos e aglomerados de galáxias. Ou seja, os "objetos" que teriam curvado os raios de luz seriam 100% escuros, sem matéria convencional.

    É um achado intrigante, de forma que os cientistas agora estão concentrados em confirmar que esses picos são reais. "Se não há galáxias ou aglomerados associados, isso teria fortes implicações para a cosmologia, no nosso conhecimento sobre a formação de estruturas no Universo", afirma o pesquisador.

    Importante lembrar que o estudo também ajuda a desvendar a outra metade do mistério da cosmologia moderna: a energia escura. Trata-se de uma força que está acelerando a expansão do Universo, agindo contrariamente à gravidade, e que ninguém, no momento, sabe exatamente o que é.

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