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    Sondas dos EUA e da Índia vão estudar atmosfera marciana

    SALVADOR NOGUEIRA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    21/09/2014 02h00

    O planeta vermelho andará agitado por esses dias, enquanto duas espaçonaves se preparam para entrar em órbita marciana.

    A primeira delas, a americana Maven, deve disparar seus motores a partir das 22h37 (de Brasília) deste domingo (21), a fim de frear de sua viagem interplanetária e se estabelecer numa órbita polar com período de 35 horas em torno de Marte.

    A segunda é a indiana MOM (Missão Orbitadora de Marte), também conhecida como Mangalyaan ("nave marciana", em sânscrito). Ela fará manobra similar cerca de 48 horas depois de sua contraparte americana.

    Pode ser um momento histórico. Caso tenha sucesso, a MOM fará da Índia o primeiro país asiático a colocar um artefato em órbita marciana.

    O sucesso tem um gostinho especial à luz de uma corrida particular que China e Índia travam na região. O primeiro orbitador chinês, que viajou com a sonda russa Fobos-Grunt, em 2011, acabou não saindo da órbita terrestre por uma falha do foguete.

    E o que impressiona na missão indiana é o orçamento: US$ 74 milhões. Pode parecer muito, mas é uma ninharia para um veículo interplanetário -a colega americana Maven custou à Nasa US$ 671 milhões.

    Os objetivos científicos das missões são similares. Muitos de seus instrumentos se concentram em tentar explicar por que Marte, que já foi hospitaleiro à vida, se tornou o deserto gelado de hoje.

    Editoria de Arte/Folhapress
    Sondas em marte

    As últimas missões em solo -especialmente os jipes Spirit, Opportunity e Curiosity- confirmaram que, bilhões de anos atrás, o planeta vermelho tinha grandes corpos de água líquida em sua superfície.

    Isso, por sua vez, implicava uma atmosfera bem mais densa que a atual. Hoje, o ar de Marte tem apenas um centésimo da densidade da atmosfera terrestre.

    O que aconteceu? Para onde foram a antiga atmosfera e a água? "A determinação da perda da atmosfera e a história da água são os objetivos mais fascinantes da Maven", diz Nilton Rennó, pesquisador brasileiro da Universidade de Chicago não envolvido com as duas missões.

    A MOM deve contribuir para solucionar o mistério. "Ela vai medir a abundância relativa de deutério e hidrogênio. Essa medida contém informação sobre a perda de água, mostrando a evolução de Marte quente e úmido para o deserto seco de hoje."

    Editoria de Arte/Folhapress
    Sondas e jipes utilizados na exploração do planeta vermelho

    FUTURO DA EXPLORAÇÃO

    As missões se encaixam num plano mestre de exploração de Marte, cuja meta final é buscar sinais de vida presente ou pregressa no planeta vermelho.

    A ideia é esquadrinhar a história de Marte de forma a identificar quais rochas seriam as mais adequadas para serem trazidas à Terra, numa futura missão robótica.

    Para isso, compreender os processos que se desenrolaram ali nos últimos 4 bilhões de anos é fundamental.

    A Maven está focada em reconstruir essa história. Já a MOM pode trazer informações adicionais sobre um mistério corrente da exploração marciana: a suposta presença de metano na atmosfera.

    Missões orbitais como a europeia Mars Express haviam detectado quantidades significativas desse gás (que pode ser sinal de atividade microbiana) na atmosfera, mas o jipe Curiosity fracassou em encontrar sinais do metano.

    "Alguns anos atrás, a comunidade científica estava fascinada com a ideia de que metano poderia ter sido descoberto em Marte, mas agora o consenso é que [a detecção] era um problema com as medidas", diz Rennó.

    A MOM poderá ajudar a esclarecer isso, caso consiga se estabelecer em órbita. Em três dias, saberemos.

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