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    Buscas na internet preveem epidemias com até um mês de antecedência

    GABRIEL ALVES
    RICARDO BONALUME NETO
    DE SÃO PAULO

    14/11/2014 02h00

    Prever epidemias de doenças como dengue, gripe ou mesmo tuberculose até quatro semanas antes que ocorram pode ser possível monitorando as buscas feitas pelos usuários da enciclopédia virtual Wikipédia.

    Pesquisadores do Laboratório Nacional de Los Alamos, no Novo México (EUA), desenvolveram um modelo matemático que usa informações das buscas para fazer as previsões, que são comparadas aos dados oficiais.

    Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

    A conclusão é que é possível prever a ocorrência de algumas epidemias com alto nível de confiabilidade.

    Tudo isso porque as pessoas, antes mesmo de procurarem orientação médica, muitas vezes pesquisam on-line os sintomas.

    Como os dados de buscas ficam (anonimamente) armazenados, é possível utilizá-los para tentar saber o que realmente está acontecendo.

    Para doenças como dengue no Brasil e na Tailândia, e gripe nos EUA, no Japão e na Polônia, os resultados foram apresentados pelo modelo com quase um mês de antecedência ante a vigilância epidemiológica.

    Para doenças como cólera, avaliada no Haiti, e Aids na China e no Japão, o modelo falhou em prever o comportamento epidemiológico.

    A matemática Sara del Valle, que está entre os autores do trabalho, disse à Folha que o modelo matemático usado para monitorar uma doença em um país pode ser facilmente adaptado a outros países, mesmo com diferenças culturais e de idioma.

    "Se a Wikimedia [responsável pelo Wikipédia] liberasse os dados de acesso aos artigos por país, poderíamos mudar a forma como é feita a vigilância epidemiológica."

    No Brasil, a notificação de dengue e tuberculose deve ser feita em até uma semana pelos médicos ao governo. A gripe tem de ser notificada em até 24 horas.

    No entanto, a nova técnica não tira a importância da previsão do governo, afinal as previsões do modelo são validadas somente quando comparadas aos dados oficiais.

    O trabalho foi publicado nesta quinta (13) na revista especializada "Plos Computational Biology".
    A iniciativa aparece após iniciativas como a do Google (google.org/flutrends), que tenta modelar matematicamente a ocorrência de gripe com buscas em seu site.

    Na mesma linha, a UFMG em parceria com o Ministério da Saúde desenvolveu um sistema que monitora em tempo real as menções à dengue no Twitter.

    CRECHES

    Outra pesquisa recente que chamou a atenção dos epidemiologistas foi feita pela Universidade de Michigan.

    Eles conseguiram a detecção precoce de epidemias fazendo com que funcionários de quatro creches nos EUA cadastrassem em um site as doenças das crianças.

    Como crianças pequenas ainda não têm um sistema imunológico plenamente desenvolvido, além de não terem muitas vezes hábitos de higiene típicos de adultos, como lavar as mãos com frequência, elas tendem a antecipar tendências de epidemias.

    "Nós conseguimos reduzir o tempo de reportar doenças por cerca de três semanas", declara Andrew Hashikawa, pesquisador que liderou o trabalho. "Essa é uma maneira real de enxergar a doença em uma comunidade, porque muitas vezes ela se espalha além da população de crianças em creches".

    Vítimas possíveis de infecção a partir das crianças costumam ser seus avôs, pessoas idosas também com sistemas de defesa mais fracos. Outros adultos, crianças e adolescentes poderiam ser infectados em seguida.

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