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    Aquecimento global não leva a mais tempestades, diz estudo

    RAFAEL GARCIA
    DE SÃO PAULO

    30/01/2015 02h03

    A interferência do aquecimento global no ciclo da água –evaporação, condensação e precipitação– deve fazer com que tempestades sejam menos frequentes, sugere um novo estudo publicado na revista "Science". Elas ficariam, porém, mais intensas.

    A conclusão, que já desperta discórdia na comunidade científica, foi publicada nesta quinta-feira.

    Os pesquisadores analisaram o comportamento da atmosfera como se ela fosse um motor –capturando calor para gerar movimento. O aumento da quantidade de vapor d'água no planeta, uma das consequências da mudança climática, deverá fazer os ventos da circulação atmosférica da Terra perderem força.

    Cientistas já estimavam que o aquecimento global deverá ser uma má notícia em termos de intensidade dos eventos de chuva. Como o vapor é um combustível para tempestades, isso era de se esperar. Mas a interferência da mudança climática sobre a frequência desses eventos em um planeta mais quente ainda era uma questão em aberto.

    Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress

    Para tentar resolver o problema, o físico Frédéric Laliberté, da Universidade de Toronto, aplicou um método que leva em conta a quantidade de entropia –o comportamento caótico e sem padrões– existente na interação entre o ciclo hidrológico e a circulação atmosférica.

    A conclusão é que em um ambiente onde a água circula com mais intensidade, as múltiplas transformações de fase da água –de gasoso para líquido, para sólido e o inverso– bagunçam a maneira como a circulação atmosférica se organiza na Terra. Esse fenômeno acaba culminando num enfraquecimento de ventos que normalmente ajudam a organizar tempestades.

    "O que estamos vendo é que, em geral, as tempestades maiores e mais poderosas serão favorecidas às custas de uma redução das tempestades menores e mais comuns", disse Laliberté à Folha.

    "O modo como imagino a manifestação disso é com grandes tempestades ocorrendo, mas sendo seguidas por um período maior de tempo ameno. Em termos de potencial destrutivo [do clima], ainda não está claro o que isso significa."

    O cientista afirma que sua pesquisa se refere apenas a eventos de chuva clássicos, que não envolvem furacões. Esse tipo de tempestade não foi contemplada no estudo.

    Segundo Laliberté, o problema da interferência do ciclo da água na circulação atmosférica deverá se agravar particularmente entre os trópicos, onde o sistema que envolve os chamados ventos alísios será afetado. "Nosso estudo é mais relevante justamente no caso de países como o Brasil", diz.

    Para o cientista, é possível até mesmo que esse efeito já esteja ocorrendo, mas a série histórica de eventos de precipitação mais intensa ainda é curta para que anomalias possam ser atribuídas à mudança climática.

    A conclusão de Laliberté, porém, não é isenta de críticas. Victor Gorshkov e Anastassia Makarieva, do Instituto de Física Nuclear de São Petersburgo, afirmam que as observações mais recentes sugerem um aumento na frequência das tempestades.

    Eles dizem que a comparação da atmosfera com um motor não é válida. "O motor atmosférico a calor seria diferente de um motor clássico, porque cria movimento em si mesmo, não em um corpo externo", afirmam.

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