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    Ancestral humano de 3 milhões de anos já usava ferramentas

    REINALDO JOSÉ LOPES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    30/01/2015 02h01

    A capacidade tipicamente humana de fazer movimentos complexos unindo o polegar aos demais dedos, como girar uma chave ou segurar com força o cabo de um martelo, já estava presente em ancestrais do homem com 3 milhões de anos de idade, afirma um novo estudo.

    O dado, que vem da análise da parte interna dos ossos das mãos do hominídeo Australopithecus africanus, sugere que a capacidade de fabricar e usar ferramentas de pedra é bem mais antiga do que se imaginava.

    "O aspecto interessante da nossa análise é que, em vez de indicar o que um indivíduo era capaz de fazer, ela mostra o que ele de fato fazia ao longo da vida", declarou à Folha um dos autores do estudo, o paleoantropólogo Matthew Skinner, professor da Universidade de Kent (Reino Unido).

    No estudo, que está na edição desta semana da revista especializada "Science", Skinner e seus colegas tentam resolver uma polêmica antiga. Embora quase todos os especialistas concordem que o uso de ferramentas de pedra já era uma característica do primeiro membro do nosso gênero, o Homo habilis, que viveu há cerca de 2,5 milhões de anos, ancestrais do homem mais antigos do que ele possuem um mosaico de traços "primitivos" e "avançados" nas mãos, que costumam deixar os cientistas na dúvida.

    É que, para fazer movimentos manuais com precisão e força típicos da nossa espécie, os dedos tiveram de passar por uma série de modificações. O polegar, por exemplo, ficou maior em relação aos demais dedos, além de ganhar "almofadinhas" carnudas na ponta, o que facilita o processo de agarrar objetos. Além disso, os dedos humanos são relativamente retos, e não curvados, como os de chimpanzés e gorilas.

    Nos fósseis de australopitecos e outros hominídeos primitivos, algumas dessas características inovadoras estão presentes, mas não todas.

    POR DENTRO

    Para tentar resolver o dilema, os pesquisadores usaram tomografia computadorizada para saber o que acontece dentro dos ossos das mãos de hominídeos que sabidamente são usuários contumazes de ferramentas –membros da nossa espécie e seus parentes próximos, os neandertais. Depois, compararam o padrão que viram com o das mãos de chimpanzés e, finalmente, com o dos australopitecos.

    Nessa comparação, a chave é o chamado osso trabecular, um tipo esponjoso de tecido ósseo que é remodelado e redistribuído dentro dos ossos de acordo com o tipo de esforço que eles realizam. A "pegada" típica do polegar humano, por exemplo, leva a uma maior densidade desse osso na base do polegar, perto da palma da mão.

    E foi exatamente isso que os pesquisadores viram no caso dos australopitecos. Agora, segundo Skinner, a ideia é examinar hominídeos ainda mais antigos, com cerca de 4 milhões de anos, para saber se o padrão é o mesmo.

    Segundo ele, ainda é difícil saber como a evolução da mão tipicamente humana começou. É possível que o processo tenha começado com a redução dos dedos dos pés, facilitando o andar bípede no solo– os dedos das mãos teriam encurtado por tabela, por serem controlados pelo mesmo conjunto de genes, explica o paleoantropólogo.

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