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    Metrô de NY tem bactérias nojentas, mas não oferece riscos aos passageiros

    CHICO FELITTI
    EM NOVA YORK

    22/02/2015 01h46

    O geneticista Christopher Manson.encontrou nas estações e nos vagões do metrô de Nova York, entre outras coisas nojentas, traços de antraz e de peste bubônica, "além de bastante bactéria encontrada no queijo mozarela".

    Bactérias de meningite também foram encontradas, em 66 estações; a Stenotrophomonas maltophilia, resistente à maioria dos antibióticos, em 409.

    Apesar disso, ele afirma não estar preocupado, em função das pequenas quantidades encontradas –e, no caso da bactéria do antraz, ao fato de ela estar inativa. O próprio Mason diz que ficou mais relaxado quando anda de metrô.

    Por um ano e meio, ele e 20 pesquisadores da Universidade Cornell, onde é professor, passaram por todas as 468 estações, com cotonetes em mãos, para mapear o microbioma e o genoma do subterrâneo.

    Editoria de Arte/Folhapress

    "O objetivo não é apavorar as pessoas, e sim deixá-las instigadas com esse universo minúsculo ao seu redor", afirma o professor. A partir do mês que vem, a sua equipe, em conjunto com a USP de Ribeirão Preto, fará o mesmo no metrô de São Paulo.

    E a fauna oculta do metrô conta uma baita história. Quase metade do DNA recolhido pelos cientistas era simplesmente desconhecido –não era de nenhuma espécie já registrada. Além de bactérias, havia material genético de insetos, plantas, fungos e animais. Apenas 0,2% era humano. Ou seja, o metrô está repleto de vida, e ainda sabemos muito pouco sobre ela.

    No que se refere ao DNA humano, Chinatown tinha de fato mais amostras com genes asiáticos do que o resto da cidade. O mesmo é válido para regiões hispânicas. Já a estação South Ferry, alagada durante o furacão Sandy, em 2012, tinha traços de bactérias normalmente encontradas apenas em ambientes marinhos. Ao todo, os pesquisadores encontraram 15.152 diferentes formas de vida.

    Parte do material encontrado era tão bizarro que os pesquisadores acreditam em algum tipo de erro. Alguns DNAs desconhecidos, por exemplo, foram atribuídos a criaturas como o demônio da Tasmânia e de um iaque (quadrúpede chifrudo de até dois metros de comprimento e farta pelagem) do Himalaia.

    "É improvável que esses animais tenham passado pelo metrô... Provavelmente suas sequências genéticas eram apenas coincidentemente próximas às presentes nas amostras que encontramos", diz Mason. "Há limitações científicas nesse campo."

    Mason diz que, ainda assim, o estudo é muito importante, porque criar uma vigilância mais constante da vida oculta no metrô pode ser importante para lidar com doenças contagiosas e seus surtos, como ebola ou rubéola.

    Segundo ele, nem todo mundo compreendeu isso. Durante a coleta do material, afirma, os pesquisadores foram com frequência acusados pelos transeuntes, "às vezes aos berros", de disseminar HIV e até de serem agentes do FBI à procura de aliens.

    SÃO PAULO

    Com Houtan Noushmehr, professor da Escola de Medicina da USP de Ribeirão Preto, Mason conduzirá agora uma coleta de 12 meses pelo Metrô paulistano, com a ajuda de 20 alunos voluntários.

    As amostras serão enviadas para Ribeirão, onde terão seu DNA analisado, e de lá para Nova York. Um grupo de informática biomédica fará a comparação dos dados com o das espécies já conhecidas.

    Os resultados serão apresentados em junho. Estudos similares serão feitos em cidades como Paris e Tóquio.

    Procurado, o Metrô paulistano afirmou que precisa receber um ofício sobre o projeto, antes de avaliar se ele respeita as normas de segurança e autorizar o trabalho. "Não os procuramos ainda", diz Noushmehr, que diz ter verba para comprar passagens para os voluntários, se não encontrar ajuda do poder público.

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