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    Novo 'astronauta' da Agência Espacial Brasileira só voará minutos, se voar

    SALVADOR NOGUEIRA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    19/04/2015 02h05

    Em 2013, o estudante de engenharia elétrica Pedro Nehme, 23, ganhou num concurso uma viagem de alguns minutos ao espaço. E agora a Agência Espacial Brasileira decidiu pegar carona com ele, apresentando-o como o segundo astronauta brasileiro. Mas ninguém sabe quando a "missão" de fato irá acontecer.

    A AEB está no momento selecionando um experimento que voará junto com Nehme até a fronteira do espaço, a 100 km de altitude, sem contudo entrar em órbita.

    Pedro Ladeira/Folhapress
    Pedro Nehme,23, ganhou um concurso para viajar ao espaço
    Pedro Nehme,23, ganhou um concurso para viajar ao espaço

    Um anúncio de oportunidade do Programa Microgravidade –o mesmo que selecionou os experimentos enviados à Estação Espacial Internacional com o astronauta Marcos Pontes, em 2006– foi divulgado e a agência receberá propostas vindas de escolas públicas do ciclo básico até 27 de abril.

    O objetivo é modesto: meramente medir os efeitos fisiológicos dos ambientes de microgravidade e hipergravidade a que será submetido o estudante, num experimento "vestível" que não atrapalhe seus movimentos.

    O concurso vencido por Nehme foi realizado pela empresa KLM e consistia em adivinhar em que altitude e em que lugar estouraria um balão estratosférico.

    Nehme é cria do programa Ciência Sem Fronteiras. De início, foi estudar na Catholic University of America, em Washington, em 2012. Mas logo obteve qualificação para fazer estágio no Centro Goddard de Voo Espacial, da Nasa, onde se envolveu com projetos de balões de grande altitude.

    Aí ganhou a experiência para o seu palpite vencedor. Mas ele mesmo admite que não fez grandes cálculos. "Quando entrei no site para participar, não demorei mais do que cinco minutos para escolher um ponto no mapa e uma altitude", diz.

    Com isso, ganhou a passagem para um voo suborbital da empresa Xcor Aerospace, a bordo do veículo Lynx Mark II, no valor anunciado de US$ 100 mil (R$ 320 mil). Detalhe: essa espaçonave nem existe ainda.

    Embora o voo em si saísse de graça, seria preciso pagar o treinamento específico para a missão suborbital. Foi onde entrou a AEB.

    Segundo Carlos Gurgel, diretor de Satélites, Aplicações e Desenvolvimento da AEB, o custo foi de R$ 81,5 mil. "Os exames médicos e o treinamento com a Força Aérea, incluindo voo em caça supersônico, foram cortesia da Aeronáutica", disse à Folha.

    A isso se soma um apoio de R$ 150 mil ao experimento educacional que voará de carona com Nehme.

    Segundo o diretor da AEB, trata-se de uma boa oportunidade. "O Pedro ficará alguns minutos em regime de microgravidade. Uma operação similar [com foguete de sondagem] conduzida pela AEB com o IAE [Instituto de Aeronáutica e Espaço] custaria mais de US$ 500 mil [R$ 1,6 milhão]."

    De acordo com ele, há muitos benefícios, dentre elas "viabilizar o voo do segundo astronauta brasileiro".

    ASTRONAUTA

    Em 2006, o tenente-coronel Marcos Pontes, hoje reformado, se tornou o primeiro brasileiro a ir ao espaço.

    Ele passou oito anos em treinamento com os astronautas da Nasa e levou oito experimentos à Estação Espacial Internacional, permanecendo dez dias em órbita após viajar numa nave russa Soyuz. Seu voo custou, na época, US$ 10 milhões.

    Nehme reconhece que há grande diferença entre o que foi feito em 2006 e o que se fará agora."Certamente o meu voo tem uma escala bem diferente", afirma o estudante.

    Procurado pela Folha, o astronauta Marcos Pontes deseja boa sorte a Nehme, mas ressalta que ainda terá de esperar um longo tempo.

    "A espaçonave Lynx conheço o piloto de testes dela ainda está a 30% da primeira fase (Mark I), que não vai chegar ao espaço, só irá a 64 km de altitude, na estratosfera."

    "Depois, se funcionar o Mark I, eles começarão os testes do Mark II, que aí sim pretende levar turistas ao espaço. Isso, otimista, deve acontecer em uns sete anos."

    Nehme está ciente da espera que terá pela frente. "O veículo Lynx Mark I está em construção e o programa de testes está previsto para começar no segundo semestre de 2015 e efetivamente a data da viagem depende dos resultados do programa de testes", diz o estudante. "Como dizem nos Estados Unidos, 'this is rocket science', não espere ter algo pronto do dia para a noite."

    Provavelmente, quando o experimento educacional decolar, alguns alunos que participaram dele já estarão formados na faculdade.

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