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    Aquecimento ameaça 25% de flora e fauna da América do Sul

    REINALDO JOSÉ LOPES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    01/05/2015 02h00

    Cerca de um quarto das espécies de animais e plantas da América do Sul, e 16% de todas as espécies do planeta, podem acabar desaparecendo caso não haja um esforço sério para reduzir as emissões de gases causadores do aquecimento global neste século.

    Os números nada animadores são resultado de uma meta-análise, ou seja, da avaliação crítica de um conjunto de 131 estudos já publicados sobre o tema.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Ao mergulhar nessa massa de dados, o americano Mark Urban, do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade de Connecticut, analisou a dificuldade que as espécies ameaçadas têm de achar um novo lar quando o clima de sua região natal fica inóspito.

    As conclusões de Urban estão descritas em artigo na revista especializada "Science". Embora pareça uma catástrofe, o sumiço de um quarto das espécies sul-americanas é calculado com base numa perspectiva que não é alarmista.

    Essa é a proporção de extinções que pode ocorrer caso a temperatura média da Terra fique 4 graus Celsius mais quente do que era antes do século 19, quando a Revolução Industrial deslanchou e a humanidade passou a queimar quantidades crescentes de combustíveis fósseis.

    Desse total do aquecimento futuro, 1 grau Celsius já aconteceu. Considerando um cenário futuro no qual não exista um grande esforço internacional para reduzir as emissões de gases que aquecem o planeta –e essa tem sido a tendência–, não haveria surpresa num aumento de mais 3 graus Celsius até 2100.

    BRASIL

    O continente onde está o Brasil seria o mais afetado, seguido pela Austrália e pela Nova Zelândia (cerca de 15% de extinções). "O problema é que todas essas regiões abrigam grande quantidade de espécies endêmicas [que só existem ali] com habitats restritos", disse Urban à Folha.

    No caso australiano e neozelandês, um problema é o fato de as espécies viverem em ilhas, o que limita sua capacidade de sair dali e colonizar outros ambientes. Em certo sentido, porém, muitas espécies sul-americanas também vivem num arquipélago, só que de montanhas, e não de ilhas, lembra Carlos Navas, professor do Instituto de Biociências da USP.

    "É o caso das espécies dos Andes, que têm uma diversidade riquíssima de seres vivos com distribuição geográfica muito restrita, com território de uns poucos quilômetros quadrados, às vezes."

    As espécies andinas, em especial as que dependem de ambientes mais frios perto do alto das montanhas, podem simplesmente ser empurradas cada vez mais para o alto. Em menor escala, o mesmo vale para as espécies endêmicas de áreas elevadas no Brasil, como as que vivem nas serras do Mar e da Mantiqueira ou nas chapadas do Nordeste e do Centro-Oeste.

    Isso significaria que apenas as criaturas mais raras e vulneráveis sumiriam, sem grandes efeitos sobre os ecossistemas? "A verdade é que a gente está andando no escuro nesse ponto", afirma Navas.

    "Imagine uma pilha de grãos de arroz. Se eu tirar um grãozinho, provavelmente ela não vai desmoronar, mas e se eu tirar outro, outro e mais outro? Agora, imagine fazer isso com milhares de espécies."

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