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    Universo tem 1º planeta 'made in Brazil'

    SALVADOR NOGUEIRA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    16/07/2015 02h06

    Pela primeira vez, uma equipe liderada por astrônomos brasileiros descobriu um planeta fora do Sistema Solar.

    Trata-se de um virtual gêmeo de Júpiter, o maior dos planetas solares, em torno de uma estrela que também é uma gêmea solar. Conhecida pela sigla HIP 11915, ela está a cerca de 200 anos-luz de distância. O achado pode nos colocar mais próximos de entender como surgem –e onde estão distribuídos– planetas similares à Terra.

    O trabalho é fruto de observações colhidas nos últimos quatro anos num projeto do astrônomo Jorge Meléndez, da USP. Além das novas observações, feitas em La Silla, no Chile, os pesquisadores também usaram dados de arquivo do ESO, o Observatório Europeu do Sul.

    Meléndez defende a ideia de que nas características das estrelas estão as pistas para encontrar outros sistemas planetários similares ao solar.

    Com a adesão do Brasil ao ESO, num acordo assinado em 2010 e apenas neste ano ratificado pelo Congresso Nacional, o pesquisador da USP pôde fazer uso da instrumentação necessária.

    Nas cerca de 60 gêmeas solares de sua amostra (estrelas que têm praticamente a mesma composição e o mesmo tamanho que o Sol), nenhuma abrigava um Júpiter Quente, ou seja, um planeta gigante gasoso com uma órbita curta, de poucos dias, que representa uma arquitetura bem diferente da do Sistema Solar.

    Para achar planetas mais afastados, é preciso mais tempo. Finalmente, agora, surgiu o primeiro –e é exatamente o que o astrônomo procurava: um gêmeo de Júpiter.

    Modelagens recentes de formação planetária sugerem que há atrelamento entre a formação de um símile joviano e a arquitetura do Sistema Solar. "A presença de Júpiter explicaria a ausência de superterras ou mininetunos no Sistema Solar", disse Meléndez à Folha. "Acho que uma continuação de nosso trabalho vai permitir afirmar que de fato um Júpiter gêmeo implica planetas internos rochosos [de porte similar aos solares]", conclui.

    Planetas

    ATIVIDADE ESTELAR

    Uma das maiores controvérsias recentes no estudo dos exoplanetas é a dos falsos positivos.

    Análises sugerem que, em alguns casos, sinais que foram interpretados como planetas na verdade refletiam ruído produzido pela atividade da própria estrela –veja no infográfico ao lado como isso pode acontecer.

    E aí surge uma incômoda coincidência no trabalho brasileiro. O ciclo de atividade da estrela HIP 11915 bate com o período orbital do planeta –aproximadamente 10 anos.

    "A detecção de exoplanetas usando qualquer método é propensa a confusão", diz José Dias do Nascimento Júnior, pesquisador da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) que não participou do estudo.

    O astrônomo da USP, por sua vez, tem muita confiança na detecção.

    "Após subtrair outros fatores que poderiam explicar as observações, fica claro que o que há é um planeta", afirma ele. "A probabilidade de 'alarme falso' é quase zero. Certamente nosso intuito é continuar com as observações."

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