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    Última fêmea de espécie de tartaruga-gigante não consegue se reproduzir

    DE SÃO PAULO

    27/07/2015 02h00

    Divulgação
    Última fêmea de espécie de tartaruga-gigante está com cem anos e não consegue se reproduzir
    Última fêmea de espécie de tartaruga-gigante está com cem anos e não consegue se reproduzir

    Os cientistas não sabem mais o que fazer. A última fêmea de uma espécie de tartaruga-gigante asiática (Rafetus swinhoei) está com cem anos –e não consegue se reproduzir. Se ela morrer, a espécie estará extinta.

    Há meses pesquisadores da Turtle Survival Alliance (TSA), entidade que busca promover a sobrevivência das tartarugas pelo mundo, tentam inseminar artificialmente o animal. Na última tentativa, ela finalmente colocou 89 ovos, mas todos eram estéreis.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Os cientistas vão tentar novamente. Mas eles não sabem direito o que está acontecendo. "Estamos fazendo um voo no escuro", disse Rick Hudson, presidente da TSA. "Estamos aprendendo sobre a reprodução da espécie conforme vamos tentando."

    Ele explica que o sistema reprodutivo dessa espécie de tartaruga é muito complexo, muito mais do que o o dos seres humanos. "É bizarro de se ver. São muitos tentáculos e apêndices. Não sabemos direito", afirmou Hudson ao site da revista "Scientific American". Nunca antes foi feita uma inseminação em tartarugas da espécie.

    Há ainda um desafio logístico: é preciso coletar e armazenar sêmen de tartaruga. O doador é um macho que também têm quase 100 anos –estima-se que a expectativa de vida das tartarugas-gigantes não seja muito maior do que isso, mas nem esse número os cientistas sabem ao certo.

    Restam apenas quatro indivíduos da espécie no mundo. Além da fêmea e do macho que doou o esperma, ambos moradores do zoológico de Suzhou, na China, há outros dois machos no Vietnam.

    DIFICULDADES

    Editoria de Arte/Folhapress

    A angústia do biológicos e veterinários começou já há alguns anos. Eles colocavam as duas tartarugas para cruzar. Elas até faziam isso, mas nada de filhotes...

    Os cientistas começaram a tentar entender o que estava acontecendo. Decidiam coletar espermatozoides do macho para avaliar se eles eram viáveis (a fêmea, aparentemente, é saudável).

    Aí surgiu outro problema na epopeia desses especialistas em tartarugas: como coletar o sêmen do macho?

    "Primeiro, nós tentamos a coleta via estimulação manual, e até um vibrador nós usamos", disse Gerald Kuchling, da TSA. Não deu certo.

    Alguém então teve a ideia de eletrocutar o animal após sedá-lo. Isso poderia levar o bicho a uma ereção e à ejaculação. O método, conhecido como eletroejaculação, que consiste em inserir um eletrodo no ânus, é bem tradicional e utilizado em diversas espécies, como touros e até seres humanos.

    Uma parte dos cientistas discordou, afirmando que seria imprudente expor um macho com idade tão avançada a descargas elétricas –ele poderia morrer. A maioria, porém, decidiu que era um risco a se correr e que não havia outra alternativa.

    O procedimento deu certo e, com a ereção, eles descobriram que a tartaruga tinha um pênis danificado.

    Eles especulam que o estrago pode ter sido causado por uma luta com outro macho décadas atrás –muitas décadas, porque as brigas são coisa de machos jovens. O estrago bloqueava a inseminação natural, mas o esperma era viável.

    "Mesmo que a gente conseguisse só um ou dois filhotes nas próximas tentativas, eu já ficaria muito feliz", disse Kuchling. "Mesmo um só... Já traria muita esperança."

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