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    Donos não têm ideia de quantos bichos seus gatos matam, dizem estudos

    JAN HOFFMAN
    DO "NEW YORK TIMES"

    10/08/2015 02h03

    Jennifer McDonald é bióloga por profissão e uma pessoa que gosta de gatos por vocação. Alguns anos atrás, Tiggy, seu gato de pelo curto amarelo e branco, trazia para casa camundongos e musaranhos recém-mortos para sua apreciação.

    Jennifer, que hoje é pesquisadora do Centro para Ecologia e Conservação da Universidade de Exeter na Inglaterra, ficou curiosa sobre o impacto de gatos domésticos como Tiggy na vida selvagem. Menos camundongos pode ser uma coisa boa. Mas gatos, caçadores naturais, também atacam pássaros e até mesmo animais maiores, como os coelhos.

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    "Você não pode escolher a presa do gato", explica Jennifer. Se os donos percebessem quantos animais seus gatos matam, pensa ela, será que considerariam prender os felinos para proteger a vida selvagem?

    Ela e seus colegas estudaram a questão. A resposta, publicada recentemente na revista científica especializada "Ecology and Evolution", foi inequívoca e enfática.

    Não.

    Nos últimos anos, o debate sobre o efeito predatório dos gatos na vida selvagem, principalmente em pássaros canoros ameaçados de extinção, só se intensificou. Mas a maioria das pesquisas de opinião pública foca nos gatos selvagens, não nos gatos domésticos.

    Jennifer conduziu um estudo que contou com a participação dos donos de gatos que vagueiam do lado de fora de casa em duas cidades britânicas. Os proprietários precisavam prever a quantidade de presas que seus felinos faziam e depois documentar as mortes verdadeiras. Aos donos de uma vila foi questionado se eles acreditavam que seus gatos tinham impacto ecológico.

    OS RESULTADOS

    1) Os donos não souberam nem estimar quantos animais seus gatos matavam. Em um caso extremo, quando instigada a contar, uma família descobriu que a média diária podia chegar a até dez presas.

    2) As 43 famílias pesquisadas por Jennifer documentaram que seus gatos mataram, em quatro meses, 325 animais: quase 60% eram roedores, e 27% eram pássaros. (De acordo com os pesquisadores, 6,2 % não puderam ser identificados.)

    Considere, porém, que um estudo anterior, que colocou câmeras nos felinos (em 55 deles), mostrou que os gatos somente levavam para casa metade das presas que matavam na rua.

    Assim, o número real de animais mortos pelos felinos de um bairro que tenha dezenas de casas com gatos é da ordem de algumas centenas por mês.

    3) Os pesquisadores também perguntaram aos donos sobre sua vontade de manter os animais dentro de casa nos principais horários de caça, do crepúsculo ao amanhecer.

    A ideia foi completamente rejeitada. "Meu gato escolhe por si mesmo se quer ficar dentro ou fora", escreveu um desses donos.
    4) Como já havia sido demonstrado por estudos anteriores, os proprietários não acreditam que seus gatos possam ser responsáveis pela redução de algumas populações de pássaros.

    Os pesquisadores ressaltaram que existe "uma dissociação entre o comportamento predatório real e percebido", e concluíram que "os donos dos gatos neste estudo rejeitaram a proposição de que os gatos são uma ameaça à vida selvagem".

    Sara Ash, professora da Universidade de Cumberlands (EUA), diz que os resultados evidenciaram a profunda separação entre os donos de gatos, que enxergam seus animais fazendo nada além do que é natural, e os biólogos, que acham que os gatos pertencem a uma espécie predatória e não nativa.

    NOVA TÁTICA

    Considerando que que a ameaça à biodiversidade não era suficiente para persuadir os donos a manter seus gatos dentro de casa, Jennifer e seus colegas sugeriram uma tática diferente: enfatizar os perigos que os gatos que vagueiam pelas ruas correm de morrer atropelados, por exemplo, ou ser atacados por predadores maiores. Cada vez mais nos EUA, esses predadores são os coiotes.

    As pesquisas mostraram que esses encontros nem sempre terminam bem. "Deixar o gato sair não é um risco apenas para os pássaros, mas também para o gato", afirma Roland Kays, líder do estudo e professor de vida selvagem na Universidade do Estado da Carolina do Norte.

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