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    Microscópio revela ação celular em tempo real

    CLAUDIA DREIFUS
    DO "NEW YORK TIMES"

    19/09/2015 02h00

    O Prêmio Nobel de Química de 2014 foi dado a três cientistas pelo desenvolvimento de um novo tipo de microscópio que poderá transformar a pesquisa biológica, permitindo que os pesquisadores observem processos celulares à medida que eles acontecem.

    Um dos vencedores foi Eric Betzig, 55, do Instituto Médico Howard Hughes, em Maryland.

    A revista "Science" publicou recentemente um trabalho assinado por ele e por outros cientistas descrevendo um microscópio poderoso a ponto de observar células vivas com detalhes inéditos.

    Leia abaixo trechos da entrevista com Betzig.

    NYTO que torna esses novos microscópios diferentes daqueles que a maioria dos pesquisadores usa?

    Eric Betzig – O grande problema dos microscópios ópticos comuns é que eles não ampliam a imagem suficientemente para que possamos enxergar moléculas individuais dentro de uma célula viva.

    Com o mais sofisticado microscópio eletrônico, você pode obter até o nível molecular. Mas você tem que bombardear sua amostra com tantos elétrons que basicamente você a frita. Isso significa que você não consegue ver um processo vivo e em tempo real.

    O que eu e outros tentamos fazer é criar microscópios que possam visualizar os "tijolos" dentro de uma célula. O objetivo é conectar a biologia molecular com a celular e desvendar a forma como moléculas inanimadas se reúnem para criar vida.

    Quando o senhor começou essa busca para construir tal microscópio?

    Comecei a trabalhar nisso em 1982, quando era pós-graduando em Cornell [universidade em Ithaca, Estado de Nova York].

    Em 1992 eu já tinha o meu próprio laboratório nos Laboratórios Bell. Construí um microscópio de campo próximo que funcionou até certo ponto. No entanto, esse instrumento ainda era muito difícil, lento e nocivo para as amostras. Fiquei frustrado e pedi demissão em 1994.

    Pouco depois, duas experiências que eu havia feito no Bell com essa máquina desencadearam a ideia que publiquei em 1995 e que dez anos depois levaria à microscopia por localização fotoativada [Palm, na sigla em inglês].

    Dez anos? Por que tanto tempo?

    Passei por um período muito deprimente depois de deixar o Bell. Minha então mulher e eu tínhamos acabado de ter um bebê. Fiquei em casa como dono de casa, tentando descobrir o que fazer em seguida. Vou para a faculdade de medicina? Viro um chef gourmet?

    Eu não tinha qualquer plano a não ser parar de fazer microscópios. Surpreendentemente, alguns meses depois de pedir demissão, tive uma ideia sobre como fazer o microscópio funcionar. Ela me surgiu enquanto eu estava empurrando o carrinho de bebê do meu filho.

    A ideia envolvia isolar moléculas e medir a sua distância. Escrevi isso num artigo, que viria a ser observado pelo Comitê do Nobel.

    Durante oito anos, trabalhei no setor privado. Em 2004, eu estava em outra crise e procurei meu velho amigo do Bell, Harald Hess. Comecei a ler sobre todos os avanços da última década. Isso nos levou a construir o Palm.

    Ficou satisfeito com o que construiu?

    Até certo ponto.

    Em 2008, no Howard Hughes, eu desenvolvi um microscópio que pode produzir imagens de células vivas a velocidades sem precedentes.

    Também trabalhei em um microscópio SIM (de "microscopia com iluminação estruturada", na sigla em inglês) altamente avançado, iniciado pelo meu colega Mats Gustafsson, que nos permitia examinar uma amostra em alta resolução e em alta velocidade.

    Ele morreu em 2011 de um tumor cerebral.

    Desde então, estamos trabalhando para tornar o seu instrumento não invasivo o suficiente para células vivas.

    O resultado é um artigo publicado na revista "Science". Finalmente temos a ferramenta para compreender a célula em toda a sua complexidade.

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