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    Resistentes, tardígrados sobrevivem ao espaço e a temperaturas extremas

    DO "NEW YORK TIMES"

    21/09/2015 02h03

    Eye of Science
    Um dos bichos mais resistentes do planeta, o tardígrado que vive até mesmo no fundo dos oceanos
    Tardígrado, um dos bichos mais resistentes do planeta e que vive até mesmo no fundo dos oceanos

    Um dos destaques entre os organismos mais impressionantes da natureza é o tardígrado, também conhecido como urso d'água. Você conhece algum outro bicho que foi ao espaço (do lado de fora do foguete) e voltou para contar a história?

    Além de ter suportado por dez dias o vácuo e a intensa radiação espacial, os bichos ainda aguentam temperaturas próximas ao zero absoluto (-273ºC) e mais quentes que água em fervura.

    As pequenas criaturas vivem quase que em todos os lugares: no musgo e nos líquens (formado pela associação entre fungos e algas), em águas termais borbulhantes, no gelo da Antártida, no assoalho oceânico e no topo das montanhas do Himalaia.

    Tipicamente acinzentados e mais ou menos transparentes, com até 1,5 mm (os maiores) de comprimento, parecem hipopótamos minúsculos (se os hipopótamos tivessem uma tromba gigante e oito pernas, cada uma com várias garras), ácaros ou ursos (daí ursos-d'água).

    A palavra tardígrado significa "quem anda devagar" em latim.

    Os tardígrados, que interessavam apenas aos zoólogos, têm gerado entusiasmo até mesmo no público leigo. Admiradores já produziram obras de arte e livros infantis sobre eles e organizaram até uma Sociedade Internacional dos Caçadores de Tardígrados "para incentivar o estudo de sua biologia e ao mesmo tempo envolver o público".

    Segundo a sociedade, formada neste ano na Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, as pessoas podem achar os tardígrados se pegarem um pouco de líquen ou musgo, especialmente em um dia úmido, colocarem em um prato raso com água e agitarem um pouco. A sujeira vai para o fundo do prato, e os tardígrados provavelmente estarão aí.

    EXTREMOS

    Uma mostra que vai até janeiro sobre organismos extremófilos no Museu Americano de História Natural de Nova York, possui besouros, flores, corais e outros animais com maneiras incomuns de sobreviver em ambientes hostis. Mas a entrada é guardada por uma réplica de três metros de um tardígrado, que parece flutuar sobre nossas cabeças.

    Quando enfrentam situações adversas como secas, mudanças bruscas de temperatura, alterações na salinidade da água, os bichos diminuem seu metabolismo para 0,01% do normal, entrando em uma espécie de hibernação na qual perdem quase todo o líquido corporal e assumem a forma de um tonel.

    Esses minitonéis podem sobreviver a pressões atmosféricas 600 vezes maiores do que a da superfície da Terra. Podem ser congelados por mais de um ano sem nenhum problema.

    Sem água, os efeitos prejudiciais do congelamento não acontecem e eles também ficam protegidos contra o calor, porque a água dentro deles não pode se transformar em gás e se expandir.

    Até mesmo a radiação precisa da água para fazer mal: quando ela bate na água, radicais livres são produzidos e eles atacam o DNA. O minitonel não sofre com isso.

    Tonéis já foram reconstituídos depois de mais de um século e voltaram à vida como tardígrados sem parecer nem sequer um dia mais velhos.

    NADA DE ARANHAS

    Por muito tempo, os biólogos os agruparam com os artrópodes, outras criaturas, geralmente pequenas, como insetos e aracnídeos. Só recentemente os tardígrados ganharam seu próprio filo –importante categoria taxonômica.

    Um entusiasta dos tardígrados e de sua biologia é Michael W. Shaw, de Richmond, na Virgínia. Ele começou levando microscópios para os colegas de suas filhas conhecerem as criaturas e acabou publicando um artigo científico.

    Sua família achou que a obsessão por caçar os bichos era "estranha", diz, mas o trabalho, que completou com a ajuda de William Miller, um especialista em tardígrados da Universidade Baker, no Kansas, foi publicado no periódico "The Journal of the New York Microscopical Society."

    Ele escreveu dois livros que explicam como reunir espécimes, fazer lâminas e, de várias maneiras, mergulhar nesse mundo de seres com trombas e oito patas.

    O site da Sociedade Internacional dos Caçadores de Tardígrados convida os membros a submeter os seus "preciosos" para exame de poderosos microscópios.

    Aqueles particularmente interessantes podem ser escolhidos como o "Tardígrado da Semana".

    Na vida real, porém, os tardígrados não fazem muita coisa: eles ficam juntos e comendo plantas e animais menores, e até mesmo fazendo canibalismo.

    *

    Daiki Horikawa
    Tardígrado, um dos bichos mais resistentes do planeta, que sobreviveu até mesmo ao vácuo e às radiações no espaço.
    Espécime de tardígrado; bichos sobreviveram até mesmo ao vácuo e às radiações no espaço.

    SUPERMINIBICHOS

    - Tamanho real
    De 0,05 a 1,5 mm –muito difíceis de se enxergar ao olho nu

    - Estrutura
    Possuem corpo e oito pequenas patas articulados, e uma laringe que se projeta para pegar comida –uma 'tromba'

    - Antiquíssimo
    Ele é um organismo ancestral, que existe há 500 milhões de anos. Os humanos surgiram há 200 mil anos

    - Família
    São primos dos artrópodes como aranhas, formigas, ácaros e lacraias. São parentes distantes dos vermes

    - Habitat
    Vivem na água que hidrata musgos e em vários outros lugares improváveis

    - O que come
    Algas, bactérias, fungos, pequenos vermes, outros tardígrados (praticamente qualquer coisa que dê sopa)

    - Vida
    Eles podem viver de meses a décadas (em criptobiose)

    - Criptobiose
    Esse é o nome do processo pelo qual o organismo passa para hibernar e que permite viver em condições desfavoráveis

    - Extremos
    Em criptobiose, os tardígrados sobrevivem em uma grande faixa de temperatura (de -272°C a 149°C) e até mesmo no espaço (do lado de fora da espaçonave)

    - Futuro
    Novos trajes e naves espaciais podem ser inspirados nos bichos, além de aplicações médicas baseadas em suas capacidades regenerativas

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