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    Cientistas propõem ideia de que a 'desextinção' já é possível

    REINALDO JOSÉ LOPES
    DE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    25/10/2015 02h00

    Todo verão do hemisfério Norte é a mesma história: intrépidos exploradores aproveitam o degelo do Ártico para desencavar um cadáver de mamute incrivelmente bem preservado.

    Após uma rápida análise do paquiderme defunto, anunciam que ele provavelmente ainda tem células intactas e que, portanto, trata-se de um ótimo candidato à ressurreição por meio da clonagem. Decidem preservar o cadáver em um freezer tamanho jumbo e estimam que um bebê mamute estará disponível dentro de alguns anos.

    Esse cenário de ficção científica provavelmente vai continuar restrito aos filmes de baixo orçamento. Mas isso não significa que alguma coisa muito parecida com um clone de mamute não possa ser criada com tecnologias atuais.

    Ressucitar um mamute

    É esse o argumento central do livro "How To Clone a Mammoth" ("Como Clonar um Mamute", ainda sem versão brasileira), escrito pela bióloga americana Beth Shapiro.

    Embora os mamutes sejam os astros do livro, a ideia de trazer um desses monstros de volta à vida é só um pretexto para abordar o estranho mundo novo da "desextinção". Há proponentes sérios da ideia (e alguns malucos) de que é possível desafiar a máxima de que extinções são irreversíveis.

    O problema é que, após centenas ou mesmo milhares de anos, é inevitável que o DNA presente em ossos, dentes ou outro tipo de tecido acabe se degradando, acumulando inúmeros erros de estrutura molecular e se quebrando em pedacinhos cada vez menores.

    Ou seja, é inútil esperar que uma célula intacta de mamute seja suficiente para clonar um exemplar do bicho.

    Mas o estudo paciente do material genético obtido a partir de fósseis, bem como a comparação desses fragmentos com os genes de elefantes modernos, deverá permitir que os cientistas descubram as principais diferenças biológicas entre os paquidermes de hoje e seus parentes extintos.

    Aí é que viria o passo crucial: usar esses dados para alterar geneticamente as células de elefantes atuais, de maneira que elas reproduzam algumas das características mais importantes dos mamutes, como tolerância ao frio e aquele casaco de peles natural dos bichos da Era do Gelo.

    Essa possibilidade soa cada vez menos maluca, graças ao advento de técnicas de engenharia genética. Feitas as mudanças, o núcleo da célula alterada seria transferido para um óvulo de elefante asiático, mais ou menos como ocorreu quando cientistas clonaram a ovelha Dolly.

    É claro que a questão envolve ainda inúmeras outras complicações. Embriões clonados muitas vezes não chegam ao fim da gestação ou nascem com problemas sérios de saúde, por exemplo.

    AMBIENTES

    Se os obstáculos forem vencidos, no entanto, a ideia não é apenas recriar um ou dois dodôs/mamutes/lobos-da-tasmânia para serem expostos à em zoológicos futuristas.

    No Ártico, por exemplo, o cenário relativamente desolado da atual tundra só surgiu após a extinção de grandes mamíferos que viviam na região –além dos próprios mamutes, havia ainda cavalos e bisões por lá, por exemplo.

    Acredita-se que esses animais atuem como engenheiros de ecossistemas, revolvendo a terra, fertilizando-a com suas fezes, carregando sementes etc. Trazê-los de volta reavivaria os ambientes.

    Um exemplo recente desse fenômeno foi o retorno dos lobos ao Parque Nacional Yellowstone, nos EUA. Eles controlaram a população de cervos, que andava comendo plantas demais.

    Apesar dessa experiência positiva, é difícil saber que espaço as grandes feras do passado teriam num mundo tão absolutamente dominado por seres humanos quanto o nosso. Talvez o tempo delas tenha passado. Mas não deixa de ser alentador que a mesma espécie que as dizimou esteja desenvolvendo as ferramentas para tentar trazê-las de volta.

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    How To Clone A Mamoth

    Autora Beth Shapiro
    Editora Princeton University Press
    Quanto R$ 57,19 (e-book), 220 págs.
    Avaliação Muito bom

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