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    economia de baixo carbono

    Poluição climática do setor de energia cresce 6% no Brasil, apontam ONGs

    MARCELO LEITE
    DE SÃO PAULO

    19/11/2015 10h00

    Na contramão dos compromissos assumidos pelo Brasil para a Conferência de Paris, sua emissão de gases do efeito estufa para obter energia aumentou em 2014. Enquanto o PIB encolhia 0,1%, a poluição climática do setor cresceu 6%.

    Essa é a principal má notícia do Observatório do Clima, uma rede de organizações não governamentais, na estimativa de emissões que está lançando nesta quinta-feira (19). Os dados detalhados podem ser obtidos e baixados na página do SEEG.

    A boa notícia: as emissões totais do país caíram ligeiramente. O Brasil inteiro lançou na atmosfera o equivalente a 1,558 bilhão de toneladas de dióxido de carbono (ou GtCO2eq), 0,9% menos que no ano anterior.

    Outra má nova é que o país se encontra estacionado no patamar de 1,5 GtCO2eq desde 2009.

    Infográfico: Série histórica

    O governo Dilma Rousseff se comprometeu a reduzir as emissões nacionais em 43% até 2030, com relação ao nível de 2005 (2,043 GtCO2eq). Isso significa que em 15 anos o total deveria descer par algo em torno de 1,165 GtCO2eq. Portanto, seria preciso eliminar 0,393 GtCO2eq até lá, ou 26 milhões de toneladas por ano.

    Toda a dificuldade reside em que o país já colheu os frutos fáceis de apanhar, em matéria de corte de gases do efeito estufa, ao reduzir o desmatamento na Amazônia em mais de 80% numa década. No jargão climático, essa rubrica se chama "mudança do uso da terra", e de novo se observou aí uma diminuição de 9,7% de 2013 para 2014.

    Em paralelo, seguem em alta os gases do efeito estufa produzidos pela queima de combustíveis fósseis (gasolina e diesel) nos transportes e para gerar energia elétrica nas usinas termelétricas a gás natural e carvão. Como não se prevê que a demanda por energia encolha, este setor tende a esterilizar toda a economia feita na mudança do uso da terra.

    Está cada vez mais difícil conter o desmatamento na Amazônia, que nos últimos anos andou pela casa dos 5.000 km2 anuais. O governo federal assumiu a meta de eliminar apenas o desmatamento ilegal até 2030 e prometeu compensar a destruição de florestas com recuperação e replantio de matas, mas sem um plano detalhado para isso.

    Mais ainda: a presidente Dilma adotou o compromisso de desmate ilegal zero só para a Amazônia. Silenciou sobre os outros biomas nacionais, como o cerrado, onde hoje se observam taxas de destruição comparáveis às da floresta amazônica, pois é sobre ele que avança a fronteira agrícola.

    Infográfico: A origem do nosso CO2

    Mesmo com a queda no desmatamento da Amazônia, o setor de mudança do uso da terra ainda é o que mais contribui para agravar o aquecimento global, com 31,2% dos gases-estufa emitidos. Mas tem a energia em seu encalço, com 30,7%, e crescendo.

    Em seguida vem a agropecuária, com 27% (o restante provém de processos industriais e deposição resíduos, como nos lixões). Se forem contabilizadas para a agricultura e a pecuária também as emissões que ocasionam com desmatamento, energia e resíduos, sua participação sobe para 60% da poluição climática brasileira em 2014.

    Cabe registrar, porém, que esse latifúndio vem encolhendo. Em 2000, era de 82%; em 2010, 67%.

    Quando se retira da conta a montanha russa de gases do efeito estufa gerados pelo desmatamento, contudo, percebe-se melhor como o Brasil caminha em linha reta para aumentar suas emissões: de 3,9 tCO2eq por habitante, em 1990, para 5,3 tCO2eq, em 2013. Com a mudança do uso da terra computada, a cifra sobe para 7,4 tCO2eq/hab, acima da média mundial.

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