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    Projeto que une USP e escolas públicas sofre sem verba, mas sobrevive

    DE SÃO PAULO

    30/11/2015 02h00

    "O que é etnografia?", pergunta um universitário a alunos do ensino fundamental e médio. "Raças?", responde, na dúvida, uma garota. "Etnias!", "A cultura do lugar!", complementam seus colegas.

    A questão fez parte da gincana de encerramento do Vivendo a USP, que busca aproximar a universidade de colégios da rede pública.

    Realizada neste sábado (28) no Cientec (Parque de Ciência e Tecnologia da USP), na zona sul de São Paulo, foi simbólica de um ano em que a falta de verba atingiu o projeto, que começou em 2011 com apoio da Capes, do Ministério da Educação.

    De acordo com Jaqueline Gomes Cardoso, universitária que auxilia a coordenação, o programa foi atingido pelos cortes federais e não recebeu os R$ 200 mil previstos. Assim, de 600 alunos atendidos em 2014, caiu para 240 em 2015. Além disso, foram reduzidas as excursões dos grupos a laboratórios e museus da USP ao longo do ano.

    "Sem a verba, a tendência foi se concentrar em visitas de professores da USP às escolas. Mas é importante que os alunos conheçam a universidade que sonham cursar", diz Gabriela Sinzato, professora de biologia da Escola Estadual Francisco Eufrásio Monteiro (Sorocaba), uma das seis que integraram o projeto.

    Para realizar algumas viagens à cidade universitária e participar da gincana de encerramento, alunos e professores tiveram de angariar dinheiro na comunidade.

    O evento de sábado (das 8h às 17h), segundo Jaqueline, recebeu da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão R$ 9.000.

    A verba ajudou na organização, mas não foi suficientes para bancar a alimentação. Lanches foram levados por alunos e professores -que não recebem pelo trabalho no sábado. "É um sacrifício, mas vale a pena. Com o projeto, os alunos passam a montar grupos de pesquisa, ficam bem mais interessados", conta Katia Varela, professora de física e química da Escola Estadual Mário Manoel Dantas De Aquino (Ferraz de Vasconcelos).

    Voluntário, os monitores são universitários que vieram de escolas públicas. Mais do que ensinar que "etnografia é o estudo da cultura de um povo" e outras questões das gincanas, contam aos estudantes como conseguiram passar na USP apesar de não terem cursado colégios particulares. "Sei como a escola pública é esquecida", diz Lucas Vieira, 25, aluno de física que atuou como monitor de uma atividade de ótica.

    Filho de auxiliar de limpeza e de cuidadora de idosos, Thiago Pires, 15, da Escola Estadual Santo Dias da Silva, participou do Vivendo a USP pela quarta vez. "É uma forma de aprender fora da sala de aula, de saber como é uma faculdade", diz ele, que quer cursar engenharia civil para "construir prédios e pontes sem prejudicar a natureza".

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