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    Nos consultórios, 1/4 dos médicos do país não aceita planos de saúde

    CLÁUDIA COLLUCCI
    DE SÃO PAULO

    28/12/2015 02h00

    Um quarto dos médicos brasileiros que atendem em consultórios não aceita nenhum plano de saúde. Atendimento, só no particular.

    A constatação aparece pela primeira vez no relatório "Demografia Médica", feito pela Faculdade de Medicina da USP com apoio dos conselhos federal e paulista de medicina (CFM e Cremesp).

    Segundo especialistas do setor, nessa última década, os especialistas passaram a se concentrar em consultórios para atender clientes de planos de saúde.

    Mas, com a defasagem no valor das consultas, muitos médicos deixaram os convênios e optaram pelo atendimento puramente particular.

    "Os 75% dos médicos que ainda atendem planos também têm reservado cada vez menos espaço na agenda para pacientes conveniados, priorizando particulares", diz o professor da USP Mario Scheffer, coordenador do estudo.

    A dentista Maria Clara Santana, 45, concorda. "Fiz o teste. Você liga pelo plano, a secretária diz que o médico não tem agenda nos próximos meses. Você pergunta se tem particular e a disponibilidade é quase que imediata."

    DEMOGRAFIA MÉDICA - Médicos se concentram no setor privado

    Entre os fatores que estão levando médicos a só atender pacientes particulares estão maior remuneração (a consulta chega a custar dez vezes mais do que a paga pelo plano), ausência de burocracia (como prazos para pagamento impostos pelos planos), um menor número de pacientes para atender e mais tempo para se dedicar a ele.

    Segundo dados da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), o valor médio da consulta paga pelos convênios está em torno de R$ 60. As entidades médicas defendem um valor de R$ 130. Em consultórios particulares de São Paulo, os preços variam de R$ 200 a R$ 1.500.

    "Muitos pacientes preferem ficar com o médico que confia e pagar a consulta. O que onera são os exames, a internação, não é a consulta", afirma Bráulio Luna Filho, presidente do Cremesp.

    Pedro Ramos, diretor da Abramge (Associação Brasileira de Medicina de Grupo), diz que a entidade estuda um novo modelo de remuneração que traga mais equilíbrio e que atenda a todos os atores da cadeia de saúde. "Temos que buscar um meio termo em que todos ganhem."

    Ramos pontua, no entanto, a necessidade de discutir a remuneração de acordo com o desempenho. "Aquele que melhor cuida do paciente ganha mais. Precisamos também conter o desperdício, que drena 20% dos recursos do setor", afirma Ramos.

    ATUAÇÃO NOS SETORES PÚBLICO E PRIVADO - Em %

    *TRABALHO EM CONSULTÓRIO - Em %

    CARREIRA

    A advogada Renata Vilhena, especialista em direito à saúde, diz que muitos médicos só aceitam usuários de planos quando estão no início da carreira ou até conseguir uma boa carteira de clientes. Depois, passam a atender só no particular.

    Segundo Rosana Chiavassa, advogada especialista em relações de consumo, alguns clientes têm pleiteado na Justiça a atualização do valor do reembolso das consultas particulares, como forma de reduzir o prejuízo. "As operadoras costumam congelar os valores numa tabela de zilhões de anos atrás."

    Por outro lado, ela lembra que os médicos cobram o que querem pelas consultas. "É um abuso. E o consumidor não tem coragem de negociar, se sente refém da situação."

    DOS QUE TRABALHAM EM CONSULTÓRIO - Em %

    CONCENTRAÇÃO NO SETOR PRIVADO -

    De acordo com Scheffer, os especialistas primeiro deixaram o SUS para atender usuários de planos de saúde nos consultórios, e agora já não os atendem mais (ou atendem muito pouco).

    "Foi retomada uma coisa que a gente achou que estava em declínio: o médico 'liberalzão', que atende quem quer, quando quer e cobra quanto quer", diz.

    Para ele, isso não é resultado apenas da decisão individual do médico, mas também de falhas das políticas em saúde. "É o pior dos mundos para um sistema universal de saúde. As pessoas cada vez mais têm que colocar dinheiro do próprio bolso."

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