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    Estudo pede cautela com classe de drogas para refluxo gástrico

    DO "NEW YORK TIMES"

    08/02/2016 02h00

    Desde seu lançamento em 1990, os antiácidos conhecidos como inibidores da bomba de prótons (IBP) passaram a figurar entre os mais receitados nos EUA. Eles bloqueiam a produção de ácido estomacal com mais eficácia do que uma classe anterior de drogas conhecidas como bloqueadores de H2.

    Mas essa classe também deu aos usuários motivos para se preocupar. Nos últimos anos, muitos estudos relataram ligações entre o uso de inibidores da bomba de prótons e uma série de problemas de saúde, incluindo fraturas ósseas, níveis baixos de magnésio, lesões renais e possíveis interações com drogas cardiovasculares.

    Eles também estão ligados a infecções, como a teimosa Clostridium difficile e pneumonia. Para pesquisadores, reduzir a acidez no estômago permite a reprodução da bactéria que pode se espalhar para outros órgãos, como pulmões e intestinos.

    As últimas descobertas, publicadas na revista médica "Jama Internal Medicine", apontam para risco aumentado de insuficiência renal crônica, o que é particularmente preocupante.

    "Fraturas são curáveis, embora possam ser eventos catastróficos para idosos, mas a insuficiência renal, não", disse Adam Schoenfeld, médico da Universidade da Califórnia em San Francisco e um dos autores do artigo.

    AÇÃO DOS ANTIÁCIDOS

    O novo estudo, de uma equipe do Johns Hopkins, compilou anos de dados de uma amostra de 10.842 adultos em quatro comunidades na Carolina do Norte, Mississippi, Minnesota e Maryland e de um grupo de quase 250 mil pacientes da Pensilvânia.

    Quem tomava os inibidores da bomba de prótons apresentava um risco de 20% a 50% maior de desenvolver insuficiência renal crônica do que os não usuários, disse a principal autora, Morgan Grams, nefrologista e epidemiologista do Johns Hopkins.

    A exemplo do resto desses estudos com drogas, esse demonstrou uma associação, não uma causa direta. Porém, na amostra da Pensilvânia, os pesquisadores documentaram um efeito de dose.

    O risco de insuficiência renal crônica crescia 15% entre quem ingeria a medicação uma vez por dia, mas 46% em quem tomava duas vezes por dia, na comparação com os não usuários. "Isso nos leva a acreditar em um efeito causal", disse Morgan.

    Estatísticas de risco relativo às vezes parecem exagerar os perigos de uma droga ou doença. Porém, a doença renal é bastante comum, principalmente entre idosos, e o número de usuários dessas drogas é enorme.

    Idosos deveriam prestar atenção especial. Eles têm maior chance de ter refluxo, em parte porque o músculo que impede o ácido estomacal de subir para o esôfago enfraquece com a idade, e são mais vulneráveis a doenças e síndromes associadas a elas.

    Tudo isso levou um painel de discussão da Sociedade de Geriatria Americana, em 2015, a acrescentar os inibidores da bomba de prótons à lista batizada de Critérios de Beers para medicação potencialmente inapropriada para uso em idosos, citando risco de perda óssea, fraturas e infecção por Clostridium difficile.

    A FDA (agência americana reguladora de medicamentos) também divulgou vários alertas de segurança sobre as associações dessas drogas com a Clostridium difficile e risco de fratura.

    Os médicos são rápidos em destacar que os inibidores da bomba de prótons podem ser medicações cruciais para quem tem úlcera péptica, entre outros. Eles são também a opção mais eficaz para refluxo severo.

    Entretanto, tanto na versão sem receita quanto na prescrita, o uso geralmente recomendado é de curto prazo.

    "Mas certamente existem idosos que as tomam há dez ou 20 anos", disse Schoenfeld. Ele recomenda diminuir gradualmente os inibidores de bombas de prótons para ver se ainda são necessários, ou trocá-los por bloqueadores de H2 menos potentes.

    Melhor ainda, abordagens não farmacológicas podem muitas vezes reduzir a azia e outros problemas relacionados ao refluxo. Perder peso ajuda, bem como limitar determinados medicamentos, como aspirina. "Com o tempo ou mudanças na dieta, muitos desses sintomas desaparecem sozinhos", disse Schoenfeld.

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