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    Engenheiro do ITA cria robô-cobra para uso em espaços confinados

    SABINE RIGHETTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    28/03/2016 02h29

    Você colocaria seu braço dentro de um equipamento que, a qualquer movimento inesperado, pode esmagá-lo? A resposta deve ter sido que "não". Muita gente, no entanto, trabalha fazendo exatamente isso, e correndo riscos.

    O engenheiro mecatrônico Lincoln Lepri, 34, resolveu criar uma solução para esse tipo de problema durante seu mestrado no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), em São José dos Campos (SP).

    É o "snake", um robô-cobra que tem o tamanho médio de um braço humano e a flexibilidade de uma cobra.

    Com 1,20 m de comprimento, o protótipo tem a capacidade de entrar em espaços reduzido. Como bom robô, vai além da capacidade humana: ele pode girar em espiral e formar uma circunferência perfeita, de ponta a ponta. Tudo isso controlado, via cabo, por um software que o próprio Lepri desenvolveu.

    Moacyr Lopes Junior/Folhapress
    O engenheiro mecatrônico Lincoln Lepri, 34, com seu braço robótico Snake
    O engenheiro mecatrônico Lincoln Lepri, 34, com seu braço robótico Snake

    O protótipo, desenvolvido no Laboratório de Automação da Manufatura do ITA em dois anos, é composto basicamente de um hardware –motor, controlador, peças, braço e alumínio do robô.

    O custo de produção saiu em torno de R$ 60.000. Os recursos vieram do próprio ITA e da Finep, financiadora federal de estudos e projetos.

    Cobra robo

    A ideia é que o snake possa substituir o humano em áreas da indústria, como inspeção, em que o braço ainda é fundamental. A ponta do snake pode ser o que a indústria quiser: câmera (para realizar inspeções), pinças, sensores de temperatura, ultrassom, laser de corte etc.

    O protótipo também pode ser adaptado para resistir a altas temperaturas, se encapsulado em material de titânio e de aço. Isso é importante. Nos Estados Unidos, dados do Departamento de Trabalho mostram que, em 2014, acidentes com incêndio foram causa de morte de 6% de quem morreu trabalhando.

    Mais: serviços de "instalação, manutenção e reparos", para a qual o snake foi pensado, é uma das quatro áreas que mais causam morte em trabalho naquele país.

    Para a indústria, salvar essas vidas, além de ético, é econômico. Cada morte em acidente de trabalho pode custar, nos EUA, até R$ 1 milhão. No Brasil, esse cálculo depende de uma série de fatores, como a vida "útil" que o profissional ainda teria.

    Há, aqui, uma norma (a "NR 33") que traz regras sobre trabalho em áreas não projetadas "para ocupação humana contínua, que possua meios limitados de entrada e saída" e, entre outros, com "deficiência ou enriquecimento de oxigênio".

    Segundo essas regras, o empregador deve manter registro dos espaços confinados que possui. Já o trabalhador deve estar capacitado e equipado para a tarefa ""o que não evita risco de morte.

    FORA DA ACADEMIA

    Formado em engenharia mecatrônica na Poli-USP, com diploma duplo pelo Politénico di Milano, na Itália, Lepri trouxe a ideia do robô de fora da academia.

    Quando começou a trabalhar na Embraer, há cinco anos, diz ter reparado na dificuldade de realizar tarefas nos chamados "espaços confinados". "Há espaços em que mal cabe um braço humano."

    Para colocar a cobra-robô no mercado, o engenheiro criou uma startup, a Intelectron. Agora, Lepri está em busca de um parceiro para testar o snake na indústria e negocia com empresas brasileiras e até estrangeiras para fazer seu teste. Uma delas é a sueca Saab, interessada no uso da snake para o setor de defesa.

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