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    Sementes salvaram ancestrais das aves de extinção, diz estudo

    RICARDO BONALUME NETO
    DE SÃO PAULO

    23/04/2016 02h02

    Danielle Dufault
    Ao fundo, dois dinossauros com penas durante caça; o de cima é um pássaro dentado; abaixo, um hipotético pássaro sem dentes relacionado às aves modernas
    Ao fundo, dois dinossauros com penas durante caça; o de cima é um pássaro dentado; abaixo, um hipotético pássaro sem dentes relacionado às aves modernas

    Águias, gaviões, flamingos, sabiás, andorinhas, periquitos; a enorme variedade de espécies de aves hoje existentes tornou-se possível porque os ancestrais delas conseguiram sobreviver comendo sementes depois de um evento catastrófico de extinção, 66 milhões de anos atrás, indica um estudo publicado na revista "Current Biology".

    Aves são os únicos dinossauros que sobreviveram ao letal meteoro que criou a cratera de Chicxulub na península de Iucatã, México.

    Apesar do nome "dinossauro" ter sido criado a partir do grego, significando algo como "lagarto terrível", ou melhor, "assustadoramente grande lagarto", os dinos não eram lagartos. Eles eram bem diversificados, e incluíam um grupo de animais emplumados, os ancestrais das aves modernas.

    Segundo os autores do estudo liderado pelo paleontólogo canadense Derek Larson, logo depois do impacto do meteoro que marca o fim do período geológico Cretáceo, as cadeias alimentares terrestres que contavam com a fotossíntese das plantas teriam entrado em colapso.

    Sem plantas, não sobrevivem os herbívoros que as comem; sem herbívoros, não há comida para os carnívoros.

    Os dinossauros aviários incluíam carnívoros com dentes nos bicos, que terminaram extintos também por conta da massiva mudança ecológica. Já seus colegas sem dentes foram capazes de sobreviver comendo sementes.

    O estudo de Larson incluiu a análise de 3.104 dentes de dinossauros da clade chamada Maniraptora, que inclui tanto as aves como outros dinos não aviários. Os dentes pertencem a animais que viveram nos últimos 18 anos do Cretáceo.

    Os cientistas concluíram que a extinção dos Maniraptora com dentes e a sobrevivência dos outros foi obra da capacidade destes de utilizar melhor a única comida abundante disponível, sementes.

    "Os pequenos dinossauros semelhantes a pássaros do Cretáceo, os maniraptoranos, não são um grupo bem conhecido. Eles são alguns dos parentes mais próximos das aves modernas, e no final do Cretáceo, muitos foram extintos", diz Larson.

    Sobreviver ao impacto do meteoro não foi fácil. Houve um grande pulso inicial de calor, literalmente cozinhando muitos animais e plantas, além de incêndios posteriores; chuva ácida, escuridão e inverno causado pelo bloqueio da luz solar ajudaram a extinguir ainda mais espécies.

    Mas os pássaros comedores de sementes resistiram. Hoje se sabe que sementes em florestas temperadas modernas podem permanecer viáveis por mais de 50 anos. E em casos de incêndios em habitats, os pássaros "granívoros" –comedores de sementes– estão entre os primeiros a reocupar o local.

    Os mais de três mil dentes foram analisados em busca de padrões de diversidade. Se a variação ao longo do tempo diminuísse seria um sinal de que a perda de diversidade indicaria que o ecossistema estava em declínio. Mas se os dentes permanecessem diferentes durante o período seria a indicação de que o ecossistema esteve estável durante milhões de anos.

    Ou seja, os dinossauros aviários com dentes estavam vivendo bem até receberem o abrupto golpe do meteoro.

    Os pesquisadores também estudaram pássaros atuais para ajudar e entender seu passado comum. E concluíram que o ancestral comum de todos –mesmo aqueles cuja dieta é de carne, ou de peixes, insetos ou plantas– era um discreto comedor de sementes com um bico desdentado.

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