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    Cientistas criam modelo que prevê invasão de algas marítimas

    RICARDO BONALUME NETO
    DE SÃO PAULO

    28/05/2016 02h11

    Noaa - 3.ago.2014/Associated Press
    Imagem de satélite mostra proliferação de algas no lago Erie em Toledo (EUA); toxinas liberadas podem matar animais e provocar doenças em humanos
    Imagem de satélite mostra proliferação de algas no lago Erie em Toledo (EUA); toxinas liberadas podem matar animais e provocar doenças em humanos

    Pesquisadores na Alemanha produziram um modelo para prever a introdução de prováveis espécies "invasivas" em novos ambientes, com ênfase nos oceanos.

    O estudo visou especialmente algas, cuja proliferação pode causar sérios problemas tóxicos para peixes e mariscos, com o potencial também de causar problemas de saúde em seres humanos.

    O resultado da pesquisa foi surpreendente, já que um modelo usando poucas informações variáveis não só conseguiu concordar com os dados disponíveis mas também previu e acertou dois novos casos de invasão no mar do Norte, na Europa.

    Os dados eram em grande quantidade, mas as variáveis eram simples: o enorme total de tráfego marítimo mundial e suas rotas; e as condições ambientais, como temperatura e salinidade da água por onde navegavam, que favoreceriam ou não a instalação de novas espécies animais e vegetais. Não foi preciso analisar as relações das espécies invasivas com as espécies nativas, por exemplo.

    Um primeiro teste do modelo avaliou a disseminação de 40 espécies marinhas invasivas e concluiu que era possível prever a presença ou ausência da espécie em determinada região com precisão de 77%.

    O estudo foi feito por Hanno Seebens, líder da pesquisa, e seus colegas Nicole Schwartz, Peter J. Schupp, e Bernd Blasius do Instituto de Química e Biologia do Ambiente Marinho da Universidade de Oldenburg, Alemanha. A pesquisa foi publicada na revista científica americana "Proceedings of the National Academy of Sciences" (PNAS).

    O segundo teste foi examinar a distribuição mundial de 97 espécies de algas invasivas e de seis outras espécies de algas que poderiam causar sérios problemas se fossem disseminadas. O exame envolvia tentar descobrir os riscos de invasão.

    Duas espécies potencialmente invasivas de alto risco para o mar do Norte, de acordo com o estudo, foram recentemente descobertas na região, antes de serem reportadas oficialmente. São as algas Prorocentrum minimum e Polysiphonia harveyi.

    Este sucesso do modelo mostra que ele poderia ser adaptado a outros grupos de seres vivos. Ele também mostra que as mudanças climáticas globais levariam a uma diminuição das probabilidades de invasão de mares tropicais –como o brasileiro– e a um aumento nos mares temperados, especificamente na Europa, mar da China e costa oeste americana.

    INVASORAS DO BEM

    O jornalista britânico especializado em meio ambiente Fred Pearce escreveu um polêmico livro defendendo as espécies invasoras. Como diz o título: "The New Wild: Why Invasive Species Will Be Nature's Salvation", ou seja, as espécies invasoras serão"a salvação da natureza.

    Um de seus argumentos envolve o mar. Ele lembra que a baía de São Francisco, Califórnia, costuma ser indicada como o local do planeta mais invadido por espécies alienígenas, graças ao intenso tráfego marítimo desde o século 19. Ele argumenta que em vez de diminuir, os invasores –caranguejos, águas-vivas, mexilhões– aumentaram a biodiversidade local.

    Pearce deixa claro, contudo, que o ambiente tem que estar em boas condições, não poluído ou destruído pela ação humana.

    Editoria de Arte/Folhapress

    E, segundo ele, são os navios dos seres humanos os que mais ajudam as espécies invasoras a invadirem.

    "A água de lastro certamente provê a espécies migratórias uma oportunidade para causar danos. É provavelmente o meio mais importante pelo qual espécies alienígenas se espalham pelo mundo hoje. Há um bom argumento para evitar problema ao se prevenir a descarga de água de lastro contendo organismos de águas distantes", escreveu Pearce.

    Quando um navio está vazio, e terminou descarregar sua carga, ele precisa de lastro para continuar flutuando sem emborcar. No passado o lastro era feito de rochas e solo, que também ajudavam as invasões de espécies. Hoje o lastro –que também pode conter sementes, esporos, algas, plâncton, bactérias, ovos de animais marinhos– é constituído por água.

    Segundo Pearce, um grande navio pode despejar algo como 60 mil toneladas de água de lastro a 10 mil km de distância de onde zarpou. Ele lembra que "há dezenas de milhares de navios no mar". Estima-se que sete bilhões de toneladas de lastro naveguem para lá e pra cá por ano.

    Concluindo: "é importante saber quando e onde espécies migram pelos oceanos, para evitar ou reduzir seus efeitos", declarou Seebens.

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