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    Ciência sem Fronteiras põe só 3,7% dos alunos em instituições 'top'

    SABINE RIGHETTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    13/06/2016 02h18

    Menos de 4% dos alunos que participaram do programa federal de intercâmbio Ciência sem Fronteiras foram estudar nas melhores universidades do mundo.

    O levantamento foi feito pela Folha na base de dados pública do programa federal.

    Ao todo, 108.865 estudantes foram beneficiados com bolsas do Ciência sem Fronteiras. Uma parte ainda está com a bolsa vigente, mas a maioria já voltou para o Brasil (veja infográfico).

    A proposta do programa, conforme seu material institucional, era que os estudantes do Ciência sem Fronteiras teriam treinamento "nas melhores instituições e grupos de pesquisa disponíveis (...) de acordo com os principais rankings internacionais." Uma dessas classificações é o ranking britânico THE.

    Diego Padgurschi/Folhapress
    A farmacêutica Karina Mendonça, 26, que estudou na Universidade de Toronto, no Canadá
    A farmacêutica Karina Mendonça, 26, que estudou na Universidade de Toronto, no Canadá

    Mas só 3,7% dos estudantes tiveram passagem por algumas das 25 melhores instituições de ensino superior do mundo, como Harvard (EUA) ou Oxford (Reino Unido).

    A classificação utilizada foi o ranking de universidades THE (Times Higher Education), lista considerada a mais importante atualmente.

    POUCOS NO TOPO - Universidades de excelência receberam 3,7% dos bolsistas do Ciência sem Fronteiras Brasileiros recebidos nas 25 melhores instituições</b>
    De acordo com a literatura científica sobre ensino superior, o primeiro quadrante dos rankings universitários revela as escolas "de elite".

    As britânicas LSE (London School of Economics) e College London, que estão no grupo das melhores do mundo, não receberam nenhum brasileiro do programa.

    Já a Universidade Kingston, também do Reino Unido, classificada no grupo 601º-800º no ranking THE, teve 150 brasileiros (a partir da 201ª posição, o THE agrupa as universidades).

    Para se ter uma ideia, a USP, melhor brasileira no ranking, está no grupo 201º- 250º.

    O número de alunos que frequentou universidades "top" pelo programa foi menor do que o de alunos enviados para Portugal –país sem universidades entre as 350 melhores do mundo no THE.

    A Universidade de Coimbra, com 952 alunos brasileiros, por exemplo, está no grupo 401º-500º no ranking THE.

    O "boom" da demanda por universidades de Portugal aconteceu logo no início do programa. Em 2012, as escolas portuguesas chegaram a concentrar um em cada cinco bolsistas brasileiros. O país acabou sendo excluído do programa e alguns alunos foram realocados para instituições de língua inglesa.

    Estar em uma universidade de elite pode fazer a diferença. "Trabalhei com professores que são referência mundial em nutrigenômica [ciência que estuda a relação entre nutrição e genética]", diz a farmacêutica Karina Mendonça, 26, da Unifesp.

    Ela teve uma bolsa de um ano e meio do Ciência sem Fronteiras na Universidade de Toronto (Canadá), uma das melhores do mundo. Fez seis meses de inglês, estágio e um ano de disciplinas. Na escolha da instituição, levou em consideração sua posição em rankings e também a facilidade do processo de ingresso em comparação com outros países.

    Nem todos os alunos do programa, no entanto, foram para "universidades". Alguns foram para instituições como hospitais e institutos de pesquisa, como a agência espacial norte-americana Nasa.

    Para o especialista em internacionalização da Unicamp Leandro Tessler, a baixa quantidade de participantes do Ciência sem Fronteiras em universidades de ponta não é surpreendente.

    "O anúncio de que os alunos iriam para as melhores universidades do mundo mostra que o governo estava fora da realidade", diz. "A maioria dos alunos brasileiros não fala inglês."

    Suspenso e sem perspectiva de receber novas verbas para continuar, o programa divide opiniões no meio acadêmico, principalmente no que diz respeito às bolsas de graduação –8 em cada 10 do total disponibilizado.

    Uma das críticas mais comuns ao projeto é a de que estágios no exterior poderiam trazer benefício real apenas durante a pós-graduação.

    Já a bióloga Helena Nader, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) elogia o programa."Esses meninos vão transformar a ciência nacional", disse em entrevista recente à Folha. A SBPC traz, desde 2012, uma sessão com relatos de ex-bolsistas do programa na sua reunião anual.

    OUTRO LADO

    A reportagem não conseguiu retorno do governo sobre o programa. O MEC orientou a Folha a falar com a Capes, uma das agências federais responsáveis pelo projeto, que informou que está passando por um momento de transição. O novo presidente da agência, o sociólogo Abílio Afonso Baeta Neves, foi nomeado na sexta (10).

    A Folha apurou que o novo governo deve priorizar as bolsas de pesquisa científica nacionalmente até que a situação econômica do país se estabilize.

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