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    mosquito aedes aegypti

    Pesquisadores investigam indícios de relação entre vírus bovino e zika

    DE SÃO PAULO
    DE BRASÍLIA

    01/07/2016 16h59 - Atualizado às 19h58

    Leo Correa - 22.jan.2016/Associated Press

    O vírus da zika pode não ser o único responsável pela epidemia de microcefalia no Nordeste do país. Traços do VDVB, vírus da diarreia viral bovina, que atinge o gado, foram encontrados em fetos com microcefalia, segundo pesquisadores brasileiros. O estudo está sendo desenvolvido por pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e do Ipesq (Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto).

    "Estamos trabalhando junto com a SVS (Secretaria de Vigilância em Saúde) para fechar esse ciclo. Ainda é muito precoce para falarmos numa colaboração viral, mas está se encaminhando para essa hipótese", afirma um dos pesquisadores da UFRJ.

    O VDVB é um vírus que causa má-formação em fetos bovinos. A ação é semelhante ao observado em fetos humanos afetados pelo vírus da zika. Um tipo de VDVB detectado na Europa já havia sido considerado um possível contaminante de leite e carne.

    Três fetos com microcefalia apresentaram traços do VDVB. A descoberta das partículas do vírus na necropsia do cérebro dos recém-nascidos foi informada ao Ministério da Saúde no dia 20 de junho.

    Os pesquisadores tentam agora isolar o vírus para garantir que existe a relação com a zika e os problemas de má-formação.

    Segundo os responsáveis pelo estudo, o VDVB poderia ser um dos responsáveis pelo elevado número de casos e a gravidade dos mesmos no Nordeste. O vírus não é raro e pode estar presente em até 10% das pessoas de determinados grupos.

    Contudo, especialistas pregam cautela quanto à possível descoberta: "Faltam evidências sólidas se há algum papel relevante desse vírus no que estamos observando com a zika", afirma Paolo Zanotto, virologista da USP, que não participou do estudo.

    Segundo Zanotto, é comum a contaminação de reagentes laboratoriais, usados em culturas de células, por exemplo, com o VDVB —não seria inesperado que ele "aparecesse" em testes que procuram por vírus nas amostras.

    HIPÓTESE

    A OMS (Organização Mundial da Saúde) e o Ministério da Saúde já foram informados sobre o estudo e a possível correlação entre os vírus. Nesta quinta (30), houve uma reunião com o Ministério da Agricultura para estudar possibilidades de ação caso os indícios sejam confirmados. A pasta diz que vai acompanhar o desdobramento da pesquisa e a comprovação da hipótese junto com o Ministério da Saúde, para então avaliar as medidas que podem ser necessárias.

    O Ministério da Saúde informou nesta sexta-feira (1º) que acompanha novas pesquisas que investigam outros fatores que, associados ao vírus da zika, podem levar à microcefalia e a outras má-formações em bebês ainda na gestação.

    Embora seja um achado significativo, a pasta reforça que ainda é cedo para conclusões sobre a hipótese. "A presença de partículas ou fragmentos do VDVB nas amostras coletadas não significa a existência de vírus ativo, nem que essa espécie de vírus seja responsável pelas malformações", informa, em nota. "Há necessidade de novas pesquisas para esclarecer o significado desses achados", completa.

    Os estudos sobre a possibilidade de associação dos casos de microcefalia com o VDBD foram divulgados pelo jornal "O Estado de S. Paulo".

    Após ser informado dos resultados, o Ministério da Saúde enviou uma equipe com quatro pessoas à Paraíba para ajudar na investigação e na análise dos dados. A descoberta de fragmentos do VDBV em amostras dos bebês também foi comunicada à Opas/OMS (Organização Pan-Americana de Saúde), "conforme o regulamento sanitário internacional".

    Zika e microcefalia

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