O conselho da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) decidiu, por unanimidade, manter a biomédica Helena Nader na presidência da instituição.

A cientista colocou seu cargo à disposição nesta semana, durante a reunião anual da entidade, após desentendimento com um cientista que estava na plateia de um ato comandado pela SBPC.

A reunião anual da entidade é o evento científico mais importante do país. Neste ano, acontece na UFSB (Universidade Federal do Sul da Bahia), em Porto Seguro.

O episódio aconteceu durante um ato da entidade contra a fusão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação com o das Comunicações. -uma das principais bandeiras atuais da SBPC.

A entidade também pede a recuperação do orçamento da pasta especificamente de ciência. Em 2013, ele era de R$ 9,4 bilhões; hoje, é de R$ 4,3 bilhões.

O episódio teve início quando o professor de química teórica da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Antonio Carlos Pavão, pediu o microfone e fez críticas à presidente:

"Estou ouvindo coisas que eu não gostaria de ouvir da SBPC. A SBPC está em cima do muro. Negociou com golpistas, fez reunião com golpistas", disse Pavão.

Na sequência, uma pessoa da plateia também chamou Nader de "pelega" -o que fez com que a biomédica colocasse, em público, o cargo à disposição.

Em nota divulgada nesta quinta (7), os conselheiros da entidade afirmaram que "decidiu repudiar com veemência as agressões verbais sofridas por sua presidente".

"Todos os membros do conselho reafirmaram apoio integral à gestão de Nader que vem sendo marcada por uma luta cotidiana pela preservação da área de ciência."

De acordo com Glaucius Oliva, ex-presidente da agência federal de fomento à ciência CNPq e membro do conselho da SBPC, o episódio é típico de uma "democracia".

"É a maneira como as pessoas se relacionam", disse à Folha. "A polarização apareceu em todo lugar, nas conversas de família e, agora, na reunião anual da SBPC".

A biomédica Helena Nader está à frente da presidência da SBPC desde 2011. Paralelamente, mantém sua carreira científica na Unifesp, onde dá aula desde 1989.

Ela é conhecida pelo seu currículo acadêmico de peso, com passagens por centros de pesquisa importantes dos Estados Unidos e da Itália.

"Agora, a gente tem de olhar muito mais pelo que nos une do que pelo que nos divide", diz Oliva. "E o que nos une é a preocupação com ciência, com tecnologia e com educação no Brasil."