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    Crítica

    Livro reafirma raça como um conceito biológico

    RICARDO BONALUME NETO
    DE SÃO PAULO

    22/09/2016 02h00

    Naum Kazhdan/The New York
    O jornalista científico Nicholas Wade
    O jornalista científico Nicholas Wade

    O jornalista britânico Nicholas Wade cutucou a onça com vara curta, mexeu num ninho de vespas e jogou gasolina no fogo. Só um desses clichês não seria suficiente para descrever este livro polêmico com um subtítulo que diz muito: "genes, raça e história humana".

    Como, "raça"? Isso existe? Segundo a Associação Americana de Antropologia, "raça tem a ver com cultura, não com biologia"; já a Associação Americana de Sociologia afirma que "raça é um construto social". Para as humanidades, raça não existe, é apenas uma invenção para justificar o racismo.

    Já uma pessoa dotada de mero senso comum olharia um japonês, um zulu e um sueco típicos e se perguntaria: "se não existem raças, por que essa diferença no visual?"

    Ao mesmo tempo, os pesquisadores das ciências sociais acreditam que a evolução biológica deixou de ter efeito sobre os seres humanos, tendo hoje a cultura um papel muito mais importante.

    Wade foi atrás de pesquisas recentes sobre genoma humano e concluiu que a evolução biológica agiu em momentos recentes da história, como na destribalização. Ela também ajudou a criar pelo menos cinco raças distintas –os caucasianos da Europa, subcontinente indiano e Oriente Médio, os africanos ao sul do Saara, os asiáticos orientais, os índios americanos e os aborígenes australianos.

    As diferenças entre populações humanas existem tanto no "visual" como no genoma, mas são sutis. De acordo com Wade, as diferenças entre as raças existem porque, ao se espalharem pelo planeta, essas populações ficaram independentes umas das outras, e portanto trilharam diferentes caminhos evolutivos.

    "Ao referir-se a qualquer pessoa que investigue o fundamento biológico da raça como 'racista científico', e assim essencialmente satanizá-la como se fosse racista, a esquerda acadêmica conseguiu suprimir quase toda a discussão a respeito da diferenciação humana. A maior parte dos pesquisadores foge do assunto em vez de arriscar-se a ser maculado com insinuações de racismo, que colocariam em risco suas carreiras e seus financiamentos", escreve o autor.

    Ele resume o motivo de ter escrito o livro: "O propósito de 'Uma Herança Incômoda' é explorar esse novo território e, em certos momentos, mostrar como as diferenças evolutivas entre as populações humanas podem ser descritas sem oferecer a menor base para o racismo, a visão de que existe uma hierarquia de raças, sendo algumas superiores às outras."

    Uma Herança Incômoda
    Nicholas Wade
    l
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    O livro tem edição e tradução competentes, com apenas uma grande exceção, na página 60, uma tradução errada de "apes". Onde se lê "Os gorilas no topo da linhagem humana", o correto é "os grandes macacos no topo da linhagem humana".

    *

    Uma herança incômoda
    AUTOR: Nicholas Wade
    EDITORA: Três Estrelas
    QUANTO: R$ 46,90 (336 págs.)
    CLASSIFICAÇÃO: Ótimo

    Edição impressa

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