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    'Space brain', o fenômeno que pode fazer missões a Marte fracassarem

    DA BBC BRASIL

    18/10/2016 08h25

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    A memória de astronautas é uma preocupação para o planejamento de longas viagens pelo espaço
    A memória de astronautas é uma preocupação para o planejamento de longas viagens pelo espaço

    Quais e quantas lembranças astronautas conseguiriam ter após uma viagem a Marte? Parece uma pergunta irrelevante, mas é uma das maiores preocupações de especialistas. Isso se deve a um fenômeno conhecido como "space brain", relacionado à exposição prolongada a raios cósmicos galácticos (GCR, na sigla em inglês).

    Esses raios carregam tanta energia que podem penetrar o casco de uma nave espacial. De acordo com cientistas da Universidade da Califórnia em Irvine (EUA), a exposição a partículas carregadas de alta energia pode causar danos de longo prazo ao cérebro.

    Entre os efeitos desse fenômeno estão alterações cognitivas e demência. Possíveis danos causados pelos GCR ao corpo já eram conhecidos, mas acreditava-se que eram de curto prazo.

    Em experimentos em ratos, porém, Charles Limoli e sua equipe descobriram que níveis de inflamação no cérebro continuavam significativos e danosos aos neurônios mesmo após seis meses, afetando comportamento, memória e aprendizagem.

    "São más notícias para astronautas que embarcarem em uma viagem de ida e volta a Marte de dois ou três anos", comentou Limoli, professor de radiação e oncologia da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia em Irvine.

    'EXTINÇÃO DO MEDO'

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    Para que esta ilustração se torne realidade, é preciso solucionar o problema dos raios cósmicos
    Para que esta ilustração se torne realidade, é preciso solucionar o problema dos raios cósmicos

    "O ambiente espacial traz perigos únicos para os astronautas", afirmou Limoli. Para o especialista, entre outros possíveis problemas decorrentes do fenômeno do "space brain" estão a diminuição do rendimento, ansiedade, depressão e alterações na hora de tomar decisões. "Muitas dessas consequências adversas podem continuar e progredir ao longo da vida."

    Os pesquisadores também descobriram que a radiação afeta a "extinção do medo", processo pelo qual o cérebro reprime experiências desagradáveis e estressantes do passado (por exemplo, quando alguém sofre uma queda de cavalo e volta a montar).

    "O déficit na extinção do medo pode torná-los (astronautas) propensos à ansiedade", assinalou Limoli. "Isso poderia ser problemático em uma viagem de três anos de ida e volta a Marte."

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    Na Estação Espacial Internacional, astronautas estão protegidos de raios cósmicos porque a magnetosfera da Terra funciona como escudo contra radiação
    Na Estação Espacial Internacional, astronautas estão protegidos de raios cósmicos porque a magnetosfera da Terra funciona como escudo contra radiação

    Raios cósmicos descarregam muita energia ao se chocar com o corpo humano. Na Estação Espacial Internacional, astronautas estão protegidos porque se encontram na magnetosfera da Terra, que atua como escudo contra radiação. O mesmo não aconteceria em uma aventura rumo à Marte.

    Construir naves espaciais com uma dupla capa protetora pode não ser útil, pois nada resiste a esses raios. Por isso, especialistas sugerem o desenvolvimento de tratamentos preventivos para proteção do cérebro.

    Se os pesquisadores estiverem corretos, é possível que um astronauta que voltar de Marte tenha, portanto, dificuldades para recordar sua memorável experiência.

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